Nossa equipe de reportagem tem apreciado há cerca de três meses o comportamento do público jovem em Água Branca. Assim como desde o início dos anos de 1980 a chamada revolução sexual iniciada nos Estados Unidos trouxe para dentro das famílias “mulheres que não são mais virgens e não são casadas”, a sociedade brasileira do novo milênio aprende a conviver com outro tipo de revolução sexual, a provocada pelos homens.
Sem atingir a situação pelo olhar crítico preconceituoso, como muitos fazem, famílias que possuem homossexuais estão cada vez mais se acostumando com a realidade da convivência e muitos pais e mães dizem que “são filhos mais dedicados a família, mais presentes na velhice dos seus genitores, mais apaziguadores na hora dos momentos mais difíceis”.
A forma de convivência a dois mudou muito a partir da década de 1960 em todo o mundo. Não se pode deixar de dizer que no Brasil a classe artística especialmente através das novelas têm contribuído para isso, para muitos de forma negativa.
Até o final da década de 1970 era comum os pais colocarem para fora de casa filhas que perdiam a virgindade. Hoje elas já tem a ousadia de levar até homens (ou mulheres) para transarem dentro da casa dos próprios pais e em muitos casos com a consciência deste, que ainda dizem: “é o namorado” da minha filha, mesmo sabendo que hoje ela está com um, amanhã ou no próximo mês com outro…
Em Água Branca a reportagem do Mpiauí tem observado que cresce a quantidade de adolescentes homens e mulheres homossexuais. Eles convivem normalmente dentro das suas famílias e em vida social. Na verdade o que faz o preconceito não é ser homossexual, mas ser “debochado”, não se dar valor, não se dar respeito. Da mesma forma a mulher que não é mais virgem e não é casada.
Mas aqui na nossa Água Branca os homossexuais ainda tem que procurar ser mais conhecedores das Leis. Nas ruas quando alguns passam, para muitos são motivos de piadas de mau gosto, de deboche – o que é crime de homofobia para quem desrespeita. E olha que se colocarmos a situação pelo lado do preconceito, muitos dos que criticam são filhos de mães solteiras, tem dentro de casa irmãs que não são mais virgens, a mãe trai o pai ou o pai trai a mãe… Vem aquele dizer antigo: “Olham para o rabo dos outros mas esquecem do seu”.
Para os preconceituosos o Mpiauí traz uma citação da sexóloga Marta Suplicy, ministra do Governo de Dilma Rousseff: “Ser homossexual é uma condição sexual e não uma escolha. A pessoa já nasce homossexual, não se torna homossexual! Se é para agredir alguém agridam a DEUS pois foi ele quem fez os homossexuais, ou vocês acham que foi o Diabo? Se acham que foi o Diabo com certeza o diabo está encarnado em muitos que traem suas esposas, em muitas que traem seus maridos, em mulheres mais velhas que andam de casos com rapazinhos, de meninas novas que não são mais virgens. Se é para ter preconceito, vamos ter com todos. E tem mais: muitos historiadores colocam em dúvida a sexualidade dos apóstolos de Jesus e de fato nas gravuras deles ao lado de Cristo sempre vemos moços bonitos e alguns muito afeminados”, retruca a famosa sexóloga brasileira.
Mas voltando a Água Branca nessa história. É certo que para toda regra existe exceção, mas chegou o momento de pessoas homossexuais, sejam masculinas ou femininas, passem a procurar os direitos que a Lei lhes consiste. Não podemos mais ver em nossas ruas pessoas serem agredidas simplesmente devido a sua condição sexual no caso de ser homossexual. Os homo-afetivos que se acharem constrangidos devem registrar Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia local e procurar a Delegacia das Minorias em Teresina, que além de verem a punição ao agressor ganharão ainda uma boa bolada em dinheiro por condição de indenização por danos morais.
Na verdade, é bom começarmos a nos acostumar com certos comportamentos, pois sociólogos, estudiosos dizem que daqui a no máximo 30 anos, 50% da população mundial será bissexual, que o bissexualismo é o “sexo do futuro”. Portanto, como para muitos hoje em dia é “normal” ter dentro de casa uma filha que não é mais virgem, daqui a alguns anos será perfeitamente normal ter filhos homens gays, bissexuais. Até no mundo político já presenciamos essa metamorfose de comportamento: deputados (as), governadores(as) presidentes da República. “O mundo está ficando cor-de-rosa e ainda tem muita gente que acha que ele é só azul”, diz Caetano Veloso.
VEJA AS CITAÇÕES ABAIXO:
ENTENDENDO A HOMOSSEXUALIDADE
Em primeiro lugar, esqueça “opção sexual”. Você ouvirá esta expressão corriqueiramente na mídia e até mesmo em livros aparentemente especializados. Em geral, quem usa tal expressão não o faz por maldade, mas um olhar mais apurado demonstra quão infeliz é esta frase. Se preferência sexual fosse uma opção, ninguém optaria por ter um gosto que converte a pessoa quase que automaticamente numa vítima do preconceito social. Pense: você optou por gostar do sexo oposto? Não foi assim, não é mesmo? Você paulatinamente foi descobrindo que se interessava pelo sexo oposto. Adivinhe? Com homossexuais é a mesma coisa! Eles gostam do mesmo sexo, pela mesma razão misteriosa que faz com que a maioria das pessoas prefira o sexo oposto.
O fato é que ninguém, absolutamente ninguém sabe o que faz uma pessoa se interessar pelo mesmo sexo ou pelo oposto. Não existe nenhuma comprovação científica de que a causa seja genética ou psicológica. Até mesmo Sigmund Freud, pai da psicanálise, a quem erroneamente se atribui a idéia de que a homossexualidade tem origem na criação, escreveu claramente em sua obra: o mais provável é que a sexualidade humana, como tudo no ser humano, seja multicausal. Não há uma causa, mas sim várias, e elas provavelmente são diferentes para cada ser humano. De todo modo, independentemente de quais sejam as causas, o filósofo francês Michel Foucault disse certa feita – e muito bem dito – que mais do que uma explicação para os gostos sexuais, o que os seres humanos mais precisam é de uma arte do bem-viver. A arte do cuidar de si. E “cuidar de si” é uma prerrogativa para todos os seres humanos, sejam eles homo, hetero ou bissexuais.
O LADO DOS PAIS
Aí você pode argumentar e dizer: “não quero que meu filho sofra neste mundo preconceituoso”. Vou te contar uma coisa que não é segredo algum e deveria ser óbvio: é impossível impedir as pessoas de sofrerem. É inviável eliminar a possibilidade do sofrimento da vida de um filho. E digo mais: é doentio fantasiar uma proteção paterna ou materna que ultrapasse as fronteiras da vida adulta de seu filho. Isso não apenas infantiliza seu filho, como cria uma relação patológica entre vocês. Além disso, você já parou para olhar ao redor do mundo hetero? As pessoas deixam de sofrer por serem heterossexuais? E se você acha que no caso dos homossexuais há mais sofrimento, eu lhe digo que isso só é verdade enquanto a maioria das pessoas pensar como você.
Outro sofrimento comum é pensar “ai meu Deus, não vou ter netos!”. Bem, seu filho ou filha é homossexual e não estéril.
Homossexuais podem perfeitamente se reproduzir, seja através da inseminação artificial, seja por intermédio do sexo desprazeroso, cuja finalidade é unicamente reprodutiva, ou podem até realizar um dos atos mais generosos e belos, que é adotar uma criança. Há milhões de crianças sem família à espera de pais sem filhos. E mesmo que seu filho fosse heterossexual, quem garante que ele seria pai? E se ele for um heterossexual que detesta a ideia de cuidar de crianças? Ter ou não ter netos não deveria ser um argumento de chantagem contra o desejo amoroso verdadeiro de seu filho ou filha. Se você quer cuidar de crianças novamente, que tal adotar uma ao invés de impor seu sonho aos outros?
Você também pode achar – e isso é muito comum – que seu filho ou filha pensa que é homossexual porque nunca experimentou o sexo oposto. Em primeiro lugar, como é que você sabe que ele nunca experimentou? E ainda que nunca tenha experimentado, é falso supor que tal coisa seja necessária. Se ele tiver que fazê-lo, o fará por livre e espontânea vontade, no dia que sentir o desejo. Sexualidade como obrigação é a via direta para o sofrimento.
Por fim, há a questão religiosa, que é parte importante na vida de muitas famílias. Religiões diferentes abordam a questão da homossexualidade das formas mais distintas: há as que aceitam, as que condenam e as indiferentes ao tema. Alguns autores, como o padre Daniel Helminiak, autor do livro “O que a Biblia realmente diz sobre a homossexualidade”, mostram que podem existir interpretações diferentes para este assunto.
O Brasil é um país onde ser homossexual gera bem menos problemas do que em outros lugares. Em nosso país, uma pessoa homossexual pode deixar pensão para seu companheiro ou companheira, pode adotar crianças, pode realizar união civil… Os homossexuais têm muitos direitos conquistados e, muito embora ainda faltem tantos outros, grandes passos já foram dados e continuarão a ser.
Deste modo, se você realmente se preocupa com a possibilidade de seu filho “sofrer mais” por ser homossexual, esforce-se para não ser você mais uma razão para sofrimento na vida dele. Em geral, pessoas homossexuais aprendem a não ligar para eventuais manifestações de preconceito. Alguns até reagem e ensinam grandes lições aos preconceituosos. Mas quando o preconceito vem da própria família, principalmente dos pais, este tipo de sofrimento é quase irrecuperável. Gera mágoas profundas e feridas difíceis de cicatrizar. Não é à toa que a incidência de tentativas de suicídio é maior entre gays – não é porque eles são gays que tentam se matar, é por causa dos pais que não os aceitam como são! Você, que deu a vida a seu filho, pense no horror que seria tornar-se provável colaborador da causa de sua morte. Você, que deu a vida a seu filho, pense em como será maravilhoso colaborar para sua felicidade. E não há maior felicidade do que poder ser aquilo que se é, com o apoio daqueles que dizem nos amar.
Deste modo, eu lhe digo: e agora? E agora, aceite. Acostume-se. Seu filho é o que é, e o que ele é vai muito além de uma extensão sua. Ele não é um robô, não é um projeto. É uma pessoa com desejos próprios. Admire-o por isso. E não apenas “tolere” sua preferência sexual. Respeite-a.
Nossos filhos não são nossos filhos…
São os filhos e filhas da vida desejando a si mesma.
Eles vêm através de nós, mas não de nós,
E embora estejam conosco, não nos pertencem.
Nós podemos lhes dar nosso amor, mas não seus pensamentos,
Pois eles têm seus próprios pensamentos,
Nós podemos abrigar seus corpos, mas não suas almas,
Pois suas almas vivem na casa do amanhã,
que nós não podemos visitar, nem mesmo em seus sonhos.
Nós podemos lutar para ser como eles,
mas não perduraremos- nos torná-los iguais a nós.
Pois a vida não volta para trás, nem espera pelo passado.
Nós somos o arco de onde nossos
filhos são lançados como flechas vivas.
(Kahlil Gibran, poeta e filósofo)