Fazenda fincada em município do norte do Piauí completa 200 anos de fundação

Os municípios mais antigos do norte do Piauí possuem fazendas centenárias, em especial Campo Maior, Barras, Batalha, Esperantina, Miguel Alves e Nossa Senhora dos Remédios. Uma dessas fazendas localizada em Barras está completando 200 anos e é da família do editor do MPiauí, jornalista e escritor Reinaldo Barros Torres.
 
Atualmente administrada por Iracema Torres, 90 anos de idade, a antiga Fazenda Guaribas, situada no Povoado Santo Antônio, divisa dos municípios de Barras e Nossa Senhora dos Remédios, está completando 200 anos de fundação.
 
Antiga propriedade do português anteriormente radicado no Rio de Janeiro,  Fernando Ribeiro Torres (Fernandão), com sua morte passou a ser herdada pelo filho Fernando Ribeiro Torres (Fernandinho). Após a morte de Fernandinho a Fazenda Guaribas passou a ser administrada por seu filho Olavo Ribeiro Torres.
 
Neste Domingo de Páscoa, 16 de Abril de 2017, Iracema Torres e a Fazenda Guaribas receberam  a visita de descendentes de cinco gerações de Fernando Ribeiro Torres (Fernandinho) e Vitorina Maria da Conceição Torres. Os familiares estiveram também no cemitério próprio das suas gerações passadas, localizado em um morro próximo a residência de Fernando Ribeiro Torres (Bisneto de Fernandão, neto de Fernandinho e filho de Olavo Ribeiro Torres e Zenóbia Barbosa Torres). Nesse cemitério estão enterrados os corpos de várias gerações da Família, inclusive de Fernando Ribeiro Torres (Fernandinho) e a esposa Vitorina Maria da Conceição Torres, de Olavo Ribeiro Torres e a esposa Zenóbia Barbosa Torres.
 
Reunidos, os parentes almoçaram juntos e tiraram o dia para relembrar o passado, onde o que não faltou foram intensas e empolgadas conversas entre os mais velhos, causando a curiosidade dos mais novos. Estiveram presentes: Iracema Torres (com seus 90 anos de idade), Manoel e Maria Torres, Eva e Fernando Torres, Ricardo eSoraia Torres, Cristiane Torres, Paulo Fernando Torres, Vinicius Torres, Giovanna Torres, Conceição Torres, Ana Beatriz Torres, Frank e Zenobia Torres, Ana Júlia Torres, Chagas Torres, Samara e Torres Junior, Apolo Torres, Roxana Torres,  Ana Sofia Torres , Fernanda Torres, Reinaldo Barros Torres.

 

Tópicos genealógicos:

A avó de Olavo Ribeiro Torres, Rosa Florinda Rodrigues, era irmã do Coronel Manoel Rodrigues Lages, pai do Coronel Alfredo Pires Lages. Rosa Florinda Rodrigues era neta de Joaquim José do Rego, proprietário da Fazenda Peixão, casado em segundas nupcias com Rosa Florinda Castelo Branco. Rosa Florinda Rodrigues (a filha) era um dos rebentos do Coronel José Antônio Rodrigues, primeiro presidente do Conselho Colonial da Vila de Barras do Marataoã, instalada em 1842. Toda a Família Torres da cidade de Nossa Senhora dos Remédios é um braço das famílias Rodrigues Lages, Rego Castelo Branco, Borges Leal e Carvalho de Almeida. (Pesquisa de Dílson Lages Monteiro, escritor/historiador membro da Academia Piauiense de Letras e Academia de Letras do Vale do Longá).

Abaixo, crônica do escritor e historiador Reinaldo Barros Torres, da Academia de Letras do Vale do Longá.

Quando criança, sempre que chegava o período das férias escolares, me destinava à Fazenda Guaribas, de propriedade dos meus avós paternos Olavo Ribeiro Torres e Zenóbia Barbosa Torres, no Povoado Santo Antônio (divisa dos municípios de Barras e Nossa Senhora dos Remédios).
 
Para mim lá era um paraíso sobre a Terra! O leite mugido, as saborosas frutas, os verdes pastos, os animais, o riacho de água cristalina que corria mansamente, as conversas puras e sempre gostosas de se ouvir, a atenção de Vovó Zenóbia – exemplo de mulher de garra e determinação -; o afeto dos tios Olavinho, Fernando, Chagas, Maria, Rui e Chico, dos padrinhos Íris e José Fernando Torres, faziam com que o lugar se tornasse ainda mais apaixonante.
 
Olavo Torres era do tipo rude. Às vezes, comigo, até severo demais. Sempre achei ele mais atencioso com meus irmãos Adriana e Rogério.
 
Para os amigos, Olavo sempre era uma festa! Brincalhão, extrovertido até a alma, cheio de vitalidade. Adorava receber as pessoas no casarão da fazenda – o que sabia fazer muito bem, era um grande anfitrião. Seus visitantes tinham sempre tratamento ímpar.
 
A casa grande da fazenda era sempre cheia de gente, especialmente em épocas de férias e Semana Santa. E tinha tanta fartura que nós crianças “brincávamos” com comida!
A noite era comum sentarmos à porta de casa, sempre aos olhares atenciosos de Vovó Zenóbia, e mulheres nos serviam tachos com frutas, pipoca, coalhada, bolos, biscoitos caseiros, etc., enquanto os adultos amigos da família bebiam e contavam histórias sob a luz do luar, sempre acompanhados do violão do amigo seresteiro Francisco Vieira de Carvalho – um dos maiores amigos da família. Lembro-me muito bem quando ele com sua voz suave cantava “Maria Helena” e “Índia”, as canções preferidas de Vovó Zenóbia. Que saudade!
Lá na Fazenda Guaribas o tempo parecia passar de forma mansa, carinhosa, gostosa.
Num certo dia de 1977, ao entardecer, as acauãs anunciavam num canto triste que Zenóbia partia… Em 1979 foi a vez de Olavinho…
 
… O riacho não mais corria mansamente, o vento não mais zumbia nas folhagens e nem o amigo seresteiro cantava mais “Maria Helena” e “Índia”…
 
Em setembro de 1992, o “Mestre Olavo Torres” também resolvia nos dar adeus… Sempre dizia que quando partisse queria que fizessem uma grande festa! Uma festa era impossível se fazer, face a dor que essa partida nos causou.
 
Dizia ele ainda que queria que matassem um boi e dessem bastante comida e cachaça para os caboclos. Não foi bem assim, mas foi um velório diferente… até um pretenso filho seu apareceu de última hora, chorando rios de lágrimas nas calçadas da casa, consolado por uma garrafa de pinga… Peralta como era Olavo, não se duvida que aquele rapaz poderia de fato ser um dos seus rebentos!
 
No velório, lembro-me bem do doutor Delson Castelo Branco Rocha, então prefeito de Nossa Senhora dos Remédios-PI, hoje meu colega na Academia de Letras do Vale do Longá, do Sargento Torres – figura ímpar, que fez história na região e que pouco tempo mais tarde foi “bater papo” com o parente Olavo, no Céu -, do Chico Josias, José Fernando Torres, e tantos outros amigos, que ao lado do seu corpo contavam suas conhecidas e sempre comentadas peraltices. Ele parecia estar sorrindo, como se ouvisse tudo que falavam.
 
Levamos-no a pé até o cemitério – próprio das nossas gerações passadas -, entoando belos hinos de louvor a Deus.
 
À frente dos seus pais Fernando Ribeiro Torres e Vitorina Maria da Conceição Torres, da esposa Zenóbia Barbosa Torres e do filho Olavo Ribeiro Torres Filho, depositaram seu corpo numa vala funda! Lá ele descansa em paz após seus 87 bem vividos anos, enquanto nós que aqui ficamos, guardamos em nossas lembranças os momentos mais lúcidos e afáveis vividos ao seu lado no longo da sua bela existência.
 
Saudade.
 
(*) Reinaldo Barros Torres, titular da Cadeira 12 da Academia de Letras do Vale do Longá e da Cadeira 29 da Academia de Letras da Região de Sete Cidades, membro da União Brasileira de Escritores, editor do portal MPiauí
 
 
 
Escritor Reinaldo Barros Torres (da Academia de Letras do Vale do Longá). Ao fundo o Cemitério da Fazenda Guaribas, próprio das gerações passadas da Família Torres
 
Escritor Reinaldo Barros e Iracema Torres. Ela com seus 90 anos de idade, atual administradora da Fazenda Guaribas
 
Num dos corredores da Casa Grande da Fazenda Guaribas: Apolo Victor Torres, Maria Torres, Reinaldo Barros Torres, Chagas Torres, Francisco das Chagas Torres Junior, Manoel Antônio Silva, Roxana Torres, Samara Vaz Torres.

 
Reinaldo Barros Torres e Chagas Torres, sobrinho e tio. Chagas Torres tem um grande conhecimento histórico sobre o passado da Família Torres

 

 
 
 
 
Olavo Ribeiro Torres tornou-se nome de rua em Teresina, capital do Piauí
 
Zenóbia Barbosa Torres tornou-se nome de rua em Teresina, capital do Piauí