Reivindicações antigas para instalação de leitos de UTI nunca foram atendidas e pandemia da Covid-19 tem mudado essa realidade

A crise de saúde provocada pelo novo coronavírus (Covid-19) tem sido um grande desafio para as autoridades em todo o mundo. Mas, quando ela for superada deverá deixar um legado para os governantes.

A estrutura de saúde pública do Piauí, com destaque para o interior do Estado, é bastante precária. Problemas antigos que há muito tempo poderiam ter sido resolvidos ou amenizados só agora estão sendo encarados com a devida seriedade. Vejamos o exemplo das Unidades de Terapia Intensiva (UTI’s). O Piauí é um dos estados do Brasil com a menor quantidade de leitos de UTI. Até a crise do novo coronavírus bater a nossa porta, a rede estadual contava com apenas 192 leitos, a grande maioria na capital.

O governador Wellington Dias está no quarto mandato, um recorde absoluto no Piauí, eleito todas as vezes no 1º turno. Ao longo dos últimos anos, se notabilizou por tomar empréstimos, cuja principal finalidade foi fazer calçamento e pequenas obras de mobilidade nos municípios. Os empréstimos serão pagos durante anos pelo contribuinte piauiense. Enquanto isso, os hospitais regionais que recebem pacientes de várias cidades sofrem com estrutura precária.

Um exemplo é a distante região de São Raimundo Nonato, que possui 15 municípios e uma população de mais de 100 mil habitantes. Por lá, o Hospital Regional Senador Cândido Ferraz é a principal unidade de saúde de toda a região. Há muitos anos a população e gestores locais cobram a instalação de PELO MENOS UM leito de UTI no hospital. A reinvindicação é antiga e nunca foi atendida pelo governo estadual. Situado a mais de 500 km da capital, o território é desassistido de terapia intensiva.

Se Wellington tivesse feito um empréstimo com a finalidade específica de instalar pelo menos um leito de UTI em hospitais regionais como o de São Raimundo, Bom Jesus e Corrente, certamente nenhum deputado de oposição contestaria e o enfrentamento à atual crise de saúde seria, de algum modo, facilitado. Somente agora, com o novo coronavírus assustando, a gestão faz o que deixou de fazer por muito tempo. Anunciou a aquisição de leitos de UTI para cidades do interior, inclusive São Raimundo Nonato.

Por que somente na hora da crise? Antes da chegada da Covid-19, piauienses morreram por falta de leitos de UTI nos hospitais regionais. No Sul do Piauí, não há leitos num raio de mais de 600 quilômetros. É óbvio que a crise do novo coronavírus tem proporções gigantes e até mesmo estruturas de saúde de primeiro mundo teriam que adotar medidas urgentes para enfrentá-la. No entanto, ela também revela que muitas vezes nossos governantes só agem quando estão diante de um problema grave do qual não se pode fugir.

De 2017 para cá, o Governo do Piauí pegou, por baixo, R$ 3 bilhões em empréstimos que foram esfarelados principalmente em calçamento e infraestrutura de pequeno porte. Se alguma dessas operações de crédito fosse para aquisição de leitos de UTI para hospitais do interior, a mobilização emergencial para enfrentar a crise da Covid-19 já teria um ponto de partida mais vantajoso. O nossos governantes devem focar em ações que são essenciais e priorizar a vida das pessoas, na capital e nos rincões.

Quando essa tormenta do novo coronavírus passar, é importante que toda a sociedade e principalmente os governantes reflitam. A pandemia da Covid-19 nos assusta e causa tristeza, mas é crucial que ela deixe um legado. Para o Poder Público, deve ficar o exemplo de que muitas omissões e desleixos administrativos podem ser evitados.

Não é de hoje que o nosso sistema de saúde pública é falho e omisso. A culpa, obviamente, não se resume a apenas um governante. A Covid-19 infelizmente tem feito muitos estragos e certamente ainda vai fazer, mas o resultado dessa crise será ainda mais danoso se ela passar e não ficar pelo menos uma lição para as autoridades.

Por Gustavo Almeida, do Política Dinâmica