Maurício Pestana: diversidade, inclusão e entretenimento


Até que ponto a sociedade brasileira está disposta a discutir, ouvir ou mesmo entender questões como diversidade, inclusão, racismo, feminismo, reparação histórica e outros temas?

Temas que batem todos os dias à nossa porta e, por mais que não se queira ou mesmo tenha dúvidas de se posicionar, há de se tomar uma decisão, tomar um lado, pois os tempos atuais não deixam espaços para os indecisos e omissos — aliás, a omissão também é uma posição.

Antes mesmo de os programas como Big Brother existirem, as agências de publicidades com foco nos produtos e serviços aliados a empresas de pesquisas tinham como uma das suas ferramentas, antes de lançarem um produto, pesquisarem a opinião dos consumidores de faixa, renda, gênero e outros aspectos, para testar o produto e assim serem mais assertivos em suas campanhas de marketing.

Analisando com um olhar mais criterioso e obviamente dando os descontos devidos de uma casa com 23 pessoas, onde a paridade de raça, gênero e outras representações se fazem presentes como LGBTQI+, é possível se ter uma pequena amostra desses temas e perfis que colam ou não na opinião pública.

A edição do reality show mais assistido da TV brasileira, por várias vezes, tocou nos temas que citei no início deste artigo, como inclusão, diversidade, racismo, entre outros.

Este ano, o BBB contou até com pessoas com discursos contundentes dignos de lideranças combativas do movimento negro brasileiro, como o de Fred Nicácio, que, em determinado momento, em uma fala inflamada, aclamou aos participantes negros e negras que não votassem nos irmãos, que seria fantástico uma final com três integrantes negros.

Dias depois, Fred, indicado por um companheiro negro, foi eliminado do programa pela votação popular.

Outra participante com discurso com forte apelo racial e de gênero, que sobreviveu a vários paredões, também foi eliminada pelo público, a miss Alemanha Domitila Barros.

Enfim, independentemente de quem vai ganhar o BBB 23, uma coisa é certa: discursos inflamados, politicamente corretos ou que vão na direção de uma linha mais progressista de valores e costumes, estão longe de ser uma unanimidade em nossa sociedade, bastante conservadora, arcaica, que quando tem o poder de se manifestar sem precisar mostrar a cara, como em uma votação no BBB ou em uma eleição, consegue, sim, defender seus mais profundos e verdadeiros valores.

*publicado por Tiago Tortella, da CNN

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