TOPIQUE: MINHA CASA, MINHA PRIMA

A Justiça Federal teve acesso a documentos que provam que o esquema que pode ter desviado mais de R$ 200 milhões do transporte escolar do Piauí “presenteou” Pauliana Ribeiro Amorim – prima da deputada federal Rejane Dias (PT) – com uma casa no valor de R$ 850.000,00. Estão em um dos volumes anexos do inquérito que subsidia a denúncia contra a organização criminosa.

Este é o imóvel que Pauliana, candidata a vice-prefeita em São João do Piauí “esqueceu” de declarar ao Tribunal Superior Eleitoral.

Na última semana, o Política Dinâmica começou a divulgar informações que estão contidas na denúncia apresentada à Justiça Federal contra a organização criminosa que roubou dinheiro do transporte escolar do Piauí. O primeiro documento publicado foi uma planilha que registra a reforma no valor de R$ 152 mil reais na casa de Pauliana Ribeiro.

Nenhuma organização criminosa paga uma propina no volume do que foi dado a Pauliana Ribeiro Amorim por acaso; ela chegou a ser a número 2 dentro da SEDUC (foto: Redes Sociais)

Ou seja: casa e reforma somam mais de R$ 1.000.000,00 em propina. Mas nos próximos dias o Política Dinâmica vai mostrar que este não foi o único suborno oferecido (e aceito!) a Pauliana. A cifra da corrupção sobe bastante essa conta.

JÁ VIROU ATÉ PIADA

Nos bastidores da política a informação de que Pauliana morava num “casarão” fruto do esquema na SEDUC já circulava há um bom tempo. Tanto que para se referir ao caso, políticos costumam fazer um trocadilho com o nome de um programa social criado na gestão do ex-presidente Lula (PT).

O Minha Casa, Minha Vida, nas rodas de conversa sobre o esquema no entorno da primeira-dama do Estado é o “Minha Casa, Minha Prima!”. Inclusive, o Política Dinâmica recebeu de uma fonte lotada no gabinete de Rejane Dias em Brasília uma gentileza para ilustrar a matéria: um antes e depois da reforma casa em questão. A fonte pediu, claro, anonimato do nome, apenas.

Uma casa de R$ 850 mil e uma reforma de R$ 152 mil; só nesse imóvel, propina superou a marca de R$ 1 milhão de reais (imagem: Fonte no Gabinete de Rejane em Brasília)Uma casa de R$ 850 mil e uma reforma de R$ 152 mil; só nesse imóvel, propina superou a marca de R$ 1 milhão de reais (imagem: Fonte no Gabinete de Rejane em Brasília)

COMPRA E VENDA

No Minha Casa, Minha Vida, em números atuais, as unidades habitacionais, em média, medem 45m² e custam R$ 75 mil. Além de ter custado muito mais que isso, a mansão ofertada à prima de Rejane é 10 vezes maior que isso: 450m². Segundo um contrato encontrado pela Polícia Federal, a casa fica numa das partes mais nobres da Zona Leste de Teresina.

No documento aparece como “vendedora” a empresa A. Ribeiro Da Silva Eireli. O CNPJ que acompanha a razão social mostra que a empresa foi criada às vésperas das eleições de 2014 – vencida no Piauí pelo governador Wellington Dias (PT) – e que, hoje, já não funciona mais.

De acordo com a Receita Federal ela encerrou oficialmente suas atividades em 27 de dezembro de 2017, quando seu nome já era LC Participações LTDA. E tinha como único proprietário o senhor Luiz Carlos Magno da Silva, também dono da LC Veículos (antiga Locar Transportes), chefe do braço privado da organização criminosa

Não existe acaso neste ponto, segundo as investigações.

Na pasta em que o documento era guardado, duas anotações escritas à mão e com canetas diferentes: “Casa UFIPI (POLIX)” e “casa quitada”. O imóvel fica de fato nas proximidades da Universidade Federal do Piauí (a grafia errada não impede esse entendimento) e, segundo o a investigação, Polix é o codinome utilizado para se referir a Pauliana Ribeiro Amorim, prima de Rejane Dias. A anotação referente à quitação aponta que o negócio estava concluído.

DENÚNCIA E PEDIDO DE PRISÃO

Ainda não há notícias sobre o recebimento da denúncia por parte da Justiça Federal do Piauí, apesar da robustez do inquérito da PF e do pedido do Ministério Público Federal. O caso continua sob julgamento do juiz Agliberto Machado. Se a denúncia for aceita, os denunciados viram réus.

Mas mesmo antes disso, já é aguardada com certa ansiedade nos bastidores da política piauiense a decisão sobre a prisão preventiva de Pauliana Ribeiro Amorim (e também Helder Jacobina, Ronald Moura, Luiz Carlos Magno, Lívia Saraiva e Stênio Dias). Segundo o MPF, as investigações da PF e tudo que aconteceu em decorrência disso não foi suficiente para fazer cessar a continuidade da operação da organização criminosa que se abancou na SEDUC.

Esta decisão cabe hoje ao desembargador federal Olindo Menezes, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que despacha no 3º andar e está com esse parecer em mãos desde 26 fevereiro de 2020. Só para constar, no mesmo edifício do TRF1, mas no 2º andar, ainda dá expediente o piauiense Kassio Marques, já nomeado para o Supremo Tribunal Federal, por indicação do presidente Jair Bolsonaro.

O QUE DIZEM OS CITADOS

A assessoria da deputada Rejane Dias (PT) não respondeu se ela tinha conhecimento que parentes dela recebiam vantagens indevidas da organização criminosa investigada pela Operação Topique ou se ela mesma teria sido beneficiada pelo esquema.

Não conseguimos contato com Pauliana Ribeiro Amorim, Ronald Moura, Helder Jacobina, Lívia Saraiva, Stênio Dias Carvalho nem com Luiz Carlos Magno Silva.

O espaço está disponível para manifestação de qualquer um dos citados a qualquer tempo.