Farpas, alfinetadas e afagos marcam primeiro debate entre candidatos a Presidente do Brasil

O primeiro debate de oito dos 13 candidatos à Presidência da República, realizado na noite desta Quinta-feira, 9 de Agosto de 2018,  pela Band, foi uma amostra, ainda morna, do que o eleitorado deve ver nas próximas semanas. O encontro começou com os presidenciáveis adotando um tom mais moderado, avaliando o campo de batalha e evitando mostrar as suas armas no primeiro enfrentamento direto transmitido para o grande público. O clima esquentou a partir do terceiro bloco com alfinetadas indiretas e críticas veladas.

A pergunta inicial do candidato Guilherme Boulos (PSOL) para o concorrente Jair Bolsonaro (PSL) sobre a acusação de uma funcionária fantasma chamada Val no seu gabinete deu a impressão de que o tom seria de enfrentamento direto. “O Brasil todo sabe que você é racista, homofóbico, tem mordomias, fez da política um negócio em família”, bateu Boulos. Contudo, não passou de chuva de verão. O capitão da reserva voltou a negar as acusações e na tréplica se recusou a manter o debate com o adversário. “Não vim para bater boca com um desqualificado”, desmereceu.

Com a maior estrutura partidária e de campanha montada, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) foi o alvo preferencial dos postulantes. No primeiro bloco, o tucano foi acionado por três vezes – por Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e Cabo Daciolo (Patriotas). No terceiro bloco, Alckmin foi alvo de Álvaro Dias e Henrique Meirelles, chegando ao limite de questionamentos de adversários. A sua ligação com o chamado “centrão” chegou a ser questionada direta e indiretamente por Marina Silva e Jair Bolsonaro durante o debate.

Sem a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso na superintendência da Polícia Federal de Curitiba, o candidato Ciro Gomes (PDT) tentou fazer um discurso de esquerda, buscando sempre o contraponto com os postulantes de direita como Geraldo Alckmin (PSDB) e Jair Bolsonaro. O pedetista reforçou sua posição contra a reforma previdenciária e trabalhista em contraposição ao tucano. Em determinado momento, ele chegou a defender a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em enfrentamento com Bolsonaro. Aconselhado por sua equipe, adotou um tom cordial e controlado. E chegou, até mesmo, a chamar seu arqui-rival Bolsonaro de “meu estimado colega de Câmara (Federal)”.

Primeiro colocado das pesquisas, sem a participação de Lula, Jair Bolsonaro foi pouco acionado pelos adversários, ao contrário do que seus aliados esperavam. Em seu discurso, sobraram críticas aos governos anteriores do PT e políticas identificadas como de esquerda. Ele chegou a ser questionado por frases polêmicas. Dias lembrou sobre fala do capitão da reserva justificando a desvalorização das mulheres no mercado de trabalho.

Meirelles buscou se colocar como o “candidato mais preparado”, reforçando o que chamou de “despreparo” dos adversários. “Preocupante quando vemos candidatos não conhecerem fatos básicos de controle do orçamento público”, pontou. Questionado por adversários por sua participação no Governo Temer, Meirelles não citou diretamente a gestão do correligionário, mas reforçou por diversas vezes seus feitos quando presidente do Banco Central na gestão de Lula. No momento mais descontraído, chegou a rir, quando Boulos disse que ele não era o único candidato do chefe do Executivo. “Aqui, tem cinquenta tons de Temer”, bateu. Sua ligação com o sistema financeiro foi questionada por adversários como o próprio Boulos e Alckmin.

Em duas das propostas mais ousadas da noite, Álvaro Dias defendeu o juiz Sérgio Moro como seu ministro da Justiça e a institucionalização da Lava Jato como estrutura de combate à corrupção do País. Cabo Daciolo adotou o discurso mais radical, criticando os adversários que chamou de “raposas da política”.