Jair Bolsonaro (PSL) ou Fernando Haddad (PT)? Não são só mesas de bares e grupos de WhatsApp têm se dividido sobre a eleição mais polarizada do Brasil nas últimas décadas. Missas e redes sociais servem de termômetro para o cisma político dentro da Igreja Católica, com padres e até bispos tomando partido, apesar de o direito canônico desestimular posicionamentos de natureza política.
O petista e sua vice, Manuela D’Ávila (PC do B), participaram de uma missa na Paróquia dos Santos Mártires, na periferia paulistana na Sexta-feira, 12 de Outubro de 2018, Dia Santo de Nossa Senhora Aparecida – Padroeira do Brasil, e lá comungaram (receberam a hóstia), mas não se confessaram antes como manda a lei da Igreja. Jaime Crowe, padre que celebrou o ato litúrgico, perguntou aos fiéis “como chegamos” ao ponto em que “alguém pode dizer para nós bandido bom é bandido morto, que tem que armar todo mundo”.
De Campinas, o padre Rodrigo Catini Flaibam foi no mesmo dia ao Facebook criticar a dupla. Padre Rodrigo chama Haddad de Calamidade e incluiu nome e número de Bolsonaro em sua foto no perfil do Facebook. A defesa de Bolsonaro anda de mãos dadas com o antipetismo e nem sempre se limita à internet.
“Como você cala a boca das pessoas? Ou você dá uma facada…” Padre Paulo Ricardo mal termina a frase, clara alusão ao atentado contra o candidato, e o público que acompanha sua fala aplaude. As palmas diminuem, e ele continua: “…ou você realiza aquilo que Bento 16 chama de martírio dos tempos modernos, que é caluniar, desacreditar e inventar mentiras sobre essas pessoas”.
Querido por movimentos de direita e apelidado de “Malafaia da Igreja Católica” por blogs de esquerda, o clérigo ganhou projeção em 2014, com bofetadas contínuas no PT de Dilma Rousseff. Esses são alguns dos antipetistas declarados. Mas o repúdio ao candidato do PSL também ecoa entre o clero brasileiro.
No texto “Votar com Lucidez”, reproduzido no site da regional sul da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Reginaldo Andrietta, da Diocese de Jales (SP), não cita o nome de Bolsonaro. E nem precisaria, não no entendimento de eleitores do militar reformado que defenestraram o bispo que escreveu contra as “escandalosas posturas alienadas de muitos cristãos e as adesões a um candidato à Presidência que dissemina violência, ódio, racismo, homofobia e preconceito contra mulheres e pobres”. “Ele utiliza falsamente as temáticas de aborto, gênero, família e ética; faz apologia à tortura, à pena de morte e ao armamentismo; e é réu por injúria e incitação ao crime de estupro”, diz dom Reginaldo.
A cúpula da CNBB também entrou na mira de propagadores do bolsonarismo, após seu presidente, o cardeal Sérgio da Rocha, dizer em fevereiro que a entidade rejeitará “candidatos que promovam ainda mais a violência”, fala que foi interpretada como uma indireta ao presidenciável do PSL.
Fake news que mexem com a fé proliferam num país onde 86% brasileiros se declaram cristãos, com 54% de católicos e 32% de evangélicos, segundo pesquisa Datafolha.
Nesta quarta-feira (17), dom Orani Tempesta, bispo da Arquidiocese do Rio, se encontrará com Bolsonaro, dois dias após seu bispo auxiliar, dom Antônio Augusto Dias Duarte, passar uma hora na casa do candidato do PSL –que tratou de publicar a foto com o religioso em seu Twitter. Duas figuras populares do clero local já fizeram acenos ao capitão reformado: Jorjão e Omar Raposo (reitor do santuário sob os pés do Cristo Redentor), tidos como padres popstar e amigos de celebridades como Zeca Pagodinho e Elba Ramalho, visitaram o presidenciável esfaqueado no hospital. A foto viralizou entre bolsonaristas. A assessoria do padre Omar disse que a reunião só aconteceu pois “ele estava no hospital visitando outra pessoa e, como sempre acontece com os sacerdotes, foi chamado a abençoar outros enfermos. Entre eles, o Bolsonaro”.