Dois homens de Araraquara (SP) suspeitos de envolvimento na invasão do celular do ministro da Justiça, Sergio Moro, eram amigos e já tiveram passagens pela polícia nos últimos seis anos. A informação foi revelada pelo portal A Cidade ON de Araraquara, do grupo EPTV, afiliada da TV Globo.
Gustavo Henrique Elias Santos, de 28 anos, que já atuou como DJ, foi preso em São Paulo, junto com a esposa Suelen Priscila de Oliveira, na operação da Polícia Federal na terça-feira (23). A defesa não acredita no envolvimento de Santos nos crimes.
Walter Delgatti Neto, mais conhecido como Vermelho, de 30 anos, não foi encontrado na casa de sua avó na Vila Xavier. Ele é considerado foragido. A defesa dele não foi localizada para comentar o assunto.
A PF cumpriu quatro mandados de prisão temporária e sete de busca e apreensão. As prisões e buscas são de supostos hackers ou de pessoas que teriam atuado em conjunto com eles.
Gustavo Henrique Elias Santos e Walter Delgatti Neto
Condenações por crimes
Santos foi preso em um apartamento em São Paulo, mas a família dele mora no bairro Selmi Dei, na periferia de Araraquara.
A esposa dele, Suelen, também foi presa na capital. Ela não tinha passagens pela polícia.
Em 2013, Santos foi preso por ter receptado uma caminhonete, uma Hillux, avaliada em R$ 91 mil, e para circular adulterou as placas e o documento. Na casa dele foram apreendidas munições calibre 38 e 735, além de simulacros de armas reais. Ele foi julgado em 2015 e condenado a cumprir seis anos e seis meses de reclusão em regime semiaberto.
Em maio de 2015, Santos e Delgatti Neto foram detidos dentro do Parque Beto Carrero World, em Santa Catarina. Santos foi ouvido e liberado, mas Delgatti Neto foi preso por falsidade ideológica. Na época, detido, apresentou uma carteira vermelha com as inscrições da Polícia Civil e dentro do carro havia uma arma e munições.
Em 2012, em Piracicaba, Delgatti Neto se hospedou em um hotel e pagou a conta de R$ 740 com o cartão de crédito de um homem de 75 anos. Em juízo, em agosto de 2015, não negou o crime e acabou condenado a um ano de prisão em regime aberto.
Em fevereiro do ano passado, Delgatti também foi julgado por envolvimento em um estelionato cometido em março de 2015. Na época, ele teve acesso a um cartão bancário furtado de um escritório de advocacia e, aproveitando-se disso, ele fez uma série de compras, entre elas poltrona, cabeceira de cama, além de roupa de cama. Ele foi condenado a um ano e dois meses de prisão em regime semiaberto.
Em abril de 2017, foi preso por tráfico de drogas e falsificação de documentos. Ele foi apreendido comprimidos de um medicamento com venda proibida, além de uma carteirinha de estudante de medicina da USP com a foto dele e dados pessoais de outra pessoa. Foi condenado a dois anos pela falsificação e o Tribunal de Justiça também o condenou por tráfico.
Operação da PF
De acordo com a PF, os mandados foram executados nas cidades de São Paulo, Araraquara e Ribeirão Preto. A autorização para as buscas e prisões foi dada pelo juiz Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal, em Brasília.
O operação foi batizada de Spoofing (“falsificação tecnológica que procura enganar uma rede ou uma pessoa fazendo-a acreditar que a fonte de uma informação é confiável quando, na realidade, não é”, segundo a definição da Polícia Federal).
O objetivo, informou a PF, é “desarticular organização criminosa que praticava crimes cibernéticos”.
Em Araraquara, o advogado de defesa de Santos afirmou que os policiais federais de Brasília foram até a casa da mãe dele, no bairro Selmi Dei, em busca de provas, como documentos, mídias, pen drives, celulares e aparelhos de computador.
“Vasculharam toda a residência e nada foi levado. Essa é a informação da mãe do meu cliente”, afirmou o advogado à EPTV.
Também foram feitas buscas na casa da avó de Delgatti Neto, no bairro Vila Xavier. Ele não estava no local e não há informações sobre apreensões na casa.
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Inquéritos
A Polícia Federal já instaurou quatro inquéritos para investigar o vazamento de mensagens do celular do ministro da Justiça. A PF também abrirá investigação para apurar suposta invasão do celular de outro ministro – Paulo Guedes (Economia).
No caso de Moro, os investigadores trabalham com a hipótese de uma ação orquestrada. Há a suspeita de que a invasão do celular do ministro tenha sido planejada.
Os investigadores estão colhendo indícios sobre a autoria, sobre quem teve acesso de forma ilegal a conversas privadas do ministro e sobre o método utilizado pelos hackers.