O cadafalso

José Vitor Fontinele

8 sinistros instrumentos de tortura da Idade Média ~ Seu Portal de Noticias e Curiosidades Online (noticiosidade.blogspot.com)

Olá, leitores do Corvo Piauí, em especial aos acadêmicos de Direito, é com imensa satisfação que apresento este texto sobre o ritual dos suplícios baseado no livro “Vigiar e punir, nascimento da prisão” de Michel Foucault, em cima do qual me inspirei para a construção desta narrativa. Boa leitura!

“Terror nos olhos de quem sobre o qual se encontra atração para aqueles que o veem.”

Em um reino da Europa construtores a serviço das autoridades erguiam uma estrutura de madeira no centro da cidade onde se concentrava uma grande massa de pessoas todos os dias para ver findar a vida de um assassino que, entre os crimes, estava o de um padre da Igreja Católica após esse se recusar a lhe dar uma carta de indulgência, e sobretudo para demonstrar em meio a dezenas de pessoas o quão poderoso é o soberano e o quão benéfico seria não transgredir as leis vigentes.

Terror nos olhos de quem sobre o qual se encontra, atração para aqueles que o veem, este palco dos horrores fazia do participante, o condenado, um mero objeto a disposição do apresentador, seu algoz, esse, um homem forte, trajando preto, mascarado, apenas com os olhos de fora para enxergar seu alvo. Programado para executar, não demonstrava o mínimo escrúpulo, e, portando um machado bem afiado, só precisaria de um golpe certeiro para separar a cabeça do corpo fazendo-a rolar na superfície da estrutura e algumas vezes escada abaixo. E, quanto aos espectadores, as pessoas que assistiam o espetáculo, era tão comum como qualquer coisa que estavam acostumadas a fazer no dia a dia e suas reações eram as mais diversas, dependendo do condenado. Sem sombra de dúvidas, a morte de condenados por crimes hediondos eram as que causavam maior repúdio na população da época, a mais instigada diante do cadafalso, esboçando as pessoas reações violentas em relação ao condenado que deveria ser escoltado por soldados até o lugar onde fosse morrer para não ser linchado pela população antes que passasse pelo ritual dos suplícios – sobre o qual falarei mais adiante -, e o carrasco atendendo aos anseios de quem presenciava e exercendo seu ofício de matador abatia o condenado como se fosse um animal.

O “possuído” ou a “personificação do mal” como era conhecido pela Igreja, o acusado de cometer diversas atrocidades, não matava para roubar e sim apenas pelo prazer de ver suas vítimas implorando para terem suas vidas poupadas, mas de nada adiantava, restando a essas apenas as clamações.

As autoridades não detinham informações suficientes a respeito do criminoso para que pudesse ser capturado. Sabiam, por meio de boatos que corriam pelo lugar, que não muito longe dali, numa floresta havia uma casa abandonada, escondida atrás de rochedos e que poderia estar servindo de abrigo para ele, e não tardou para que os soldados fizessem um cerco no local e o capturassem, levando-o detido para ser julgado pelas leis impiedosas do reino.

Com seu destino premeditado, os construtores começam a construir um cadafalso, pois, decerto, será condenado à morte. No entanto, até que isso venha a se concretizar, terá um grande caminho a se percorrer, podendo ser anos agonizantes ou instantes de dor – refiro-me aos suplícios, ritual de tortura que antecediam a morte do condenado -. Sorte daqueles que iam direto para a fogueira, forca ou eram decapitados, porque não passariam pelas mais diversas modalidades de tortura até que tivessem suas vidas ceifadas. Não foi o caso do “possuído”, que foi arrastado por cavalos pelas ruas e, depois de jogado em cima do cadafalso, banhado com água fervente e ainda vivo desmembrado a machadadas pelo carrasco e, por fim, teve seu tronco jogado na fogueira onde virou apenas cinzas.