José Vitor Fontinele
Aqui, neste lugar, ainda se guardam evidências de um passado de terror, em que pessoas, entre as quais crianças e idosos, foram dizimadas impiedosamente por criaturas aparentemente inofensivas, no entanto, desmedidamente infernais, maléficas. Esses pobres, em seu interior, a única coisa que podiam fazer era aceitar a condição imposta pelos seus algozes, pois, depois que suas aterradoras bocas fechavam, estavam diante de uma situação irreversível, restando-lhes, apenas, o clamor.
Está anoitecendo, e andando entre essas criaturas adormecidas pela ausência de fumaça que outrora emitiam ao exterminarem os milhares, sou assolado por uma tristeza profunda ao pensar no sofrimento que elas passaram: horas exaustivas de trabalho forçado, alimentação extremamente precária, torturas das mais diversas modalidades, as condições desumanas a que foram submetidas, sobretudo em seu interior, onde o sofrimento era indescritível para um mortal.
O medo me abate, pareço ainda escutar os gritos, os choros e os mais diversos pedidos de ajuda e ver as outras criaturas menores que as citadas antes, com suásticas em seus uniformes, portando armas de fogo e conduzindo-as até suas bocas, sem demonstrarem qualquer forma de comoção, afinal, eram doutrinadas apenas para uma finalidade: subjugá-las.
Quanto a essas criaturas das trevas infernais – como, talvez, diria Poe -, o que mais lhes dava prazer era o estado de submissão dessas pobres pessoas: olhares de desprezo pela vida e apreço pela morte diante delas, que se auto intitulavam “superiores”.
O pavor é tanto que começo a correr. Corro como nunca antes corri na vida, movido pela imensa vontade de encontrar a saída, como se a morte tivesse assumida forma humana e, impelida a me perseguir, forçasse-me a correr desesperadamente, prezando pela minha vida, resguardando-a de algo que está a meu encalce, prestes a me fazer cair em um tormento sem fim. Talvez, eu esteja sonhando, mas não, é muito real. O que difere os sonhos da realidade são os graus de sentimentos e vivacidade, e creio eu estar sentindo-me no mais intenso grau possível.
Ao correr mais alguns metros avisto um grande portão de ferro, na esperança de ser a saída, sinto-me um pouco aliviado, mas continuo com a sensação de estar vivenciando tudo aquilo. Quanto mais eu corro, mais tenho a impressão de não sair do lugar, de estar com as pernas enterradas e o resto do corpo envolto em cordas, as quais estão sendo puxadas por uma força invisível e descomunal, impossibilitando-me de fazer qualquer esforço para as desentrelaçar e prosseguir, a fim de lhes contrariar o propósito de me manter aqui, inerte, escravo de uma agonia infindável. Sinto muito medo e tudo que mais quero nesse momento é sumir desse lugar. Espero que minhas preces sejam atendidas o quanto antes, pois, não sei até que ponto vai a sanidade de um homem.
Que alívio! Consegui.
Ao distanciar-me do portão, viro-me para olhar pela última vez o infeliz lugar. Acima do portão está escrito: “ARBEIT MACHT FREI”, “o trabalho liberta”.