[ad_1]
Um candidato bolsonarista de apenas 26 anos, com forte presença nas redes sociais e jingles virais, ameaça interromper duas décadas de hegemonia da centro-esquerda em Fortaleza, capital que nas últimas cinco disputas municipais elegeu prefeitos de PT, PSB ou PDT.
O deputado federal André Fernandes (PL), que na Câmara dos Deputados se destaca entre os principais apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, chegou ao segundo turno moderando seu discurso e “escondendo” essa aliança na reta final da campanha, apontam cientistas políticos do Ceará ouvidos pela reportagem.
Mas, apesar do histórico lulista de Fortaleza, Fernandes terminou na frente no primeiro turno, com 40% dos votos válidos, contra 34% do segundo colocado, o mais experiente Evandro Leitão (PT), de 57 anos, deputado estadual e presidente da assembleia legislativa cearense, que se licenciou do cargo para disputar a prefeitura.
Já as pesquisas de segundo turno têm dado, em sua maioria, empate técnico, com Fernandes numericamente à frente. O levantamento do Instituto Datafolha divulgado nesta quinta-feira (17/10), por exemplo, deu o candidato do PL com 45% das intenções de voto, e o petista com 43% — a margem de erro é de três pontos percentuais.
A campanha petista tem adotado a estratégia oposta a do bolsonarista, exibindo ao máximo o apoio de Lula, que já voltou à cidade para ato de campanha no segundo turno.
Outro importante cabo eleitoral tem sido o ex-governador do Ceará e atual ministro da Educação, Camilo Santana (PT).
Os analistas entrevistados, porém, dizem que não está claro se a estratégia de colar em Lula será capaz de virar o jogo.
Para eles, a liderança de Fernandes no primeiro turno reflete um desejo de mudança que domina a eleição em Fortaleza, em contraste com a alta taxa de reeleição registrada no primeiro turno país afora (81% dos prefeitos que tentam um segundo mandato foram confirmados no cargo).
Segundo o cientista político Cleyton Monte, diretor de Extensão e Inovação do Instituto Centro de Ensino Tecnológico (Centec), há um desgaste natural do campo da centro-esquerda após anos governando Fortaleza e o Ceará, agravado pela piora da segurança pública e o mal desempenho do último prefeito, José Sarto (PDT), que não chegou ao segundo turno — um dos motivos foi a criação de uma impopular taxa do lixo, para custear a limpeza urbana.
Monte nota que a direita vem se fortalecendo na capital e na região metropolitana desde o movimento pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, processo que deu espaço para a ascensão de figuras como Capitão Wagner (União Brasil), que teve votações expressivas nas duas disputas anteriores pela prefeitura, e André Fernandes.
O candidato do PL ganhou notoriedade ainda adolescente, com vídeos de humor controverso no YouTube, pelos quais chegou a se desculpar na campanha deste ano, e estreou na política como deputado estadual mais votado em 2018. Dois anos depois, chegou à Camara Federal também como o mais votado do Ceará.
O Estado vinha dominado, desde 2007, pela aliança entre o PT e os Ferreira Gomes — família dos ex-governadores e irmãos Ciro Gomes (PDT) e Cid Gomes (PSB), que romperam após as eleições de 2022, abrindo uma crise no domínio político cearense. Ainda assim, o Ceará segue sob comando do PT, com Elmano de Freitas.
Fonte BBC News Brasil