A máquina do terror

José Vitor Fontinele

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Em uma pequena cidade entre montanhas, que acercavam dando-lhe um aspecto de grandes muralhas defensivas, passava um trilho dividindo-a em dois lados: oeste (praticamente inabitado) e leste (onde tinha uma grande densidade populacional, pois, além de seus moradores de origem, havia a grande maioria da população oeste que estabeleceu-se lá).
As poucas pessoas que ainda permaneciam no lado oeste da cidade temiam o barulho da locomotiva que passava às doze da noite todas as sextas-feiras e parava em um ponto específico que há muito tempo deixou de ser usado pelos habitantes da cidade, mas não era apenas isso a causa de tanto pavor, pois diziam que os passageiros eram liderados pelo maquinista de aparência diabólica, que arrombavam as casas, cometiam atrocidades contra seus residentes e, por fim, ateavam fogo nelas antes de partirem. Esses acontecimentos repetiam-se todas as sextas e foi o que levou as pessoas desse lado da cidade a irem para o outro.

Certa vez um grupo de moradores decidiram bolar um plano para pôr fim ao que vinha ocorrendo. Ao anoitecer começaram a se prepararem, armados com foices, facões, carabinas e o que puderam encontrar. Posicionaram-se estrategicamente nas proximidades da parada e esperavam aterrorizados o que enfrentariam. Escuta-se ao longe o barulho produzido pela locomotiva que vai aumentando e ficando cada vez mais intenso e macabro conforme se aproxima.

Quando é exatamente doze horas, o trem para, e o maquinista é o primeiro a descer. Depois, aos poucos, descem dos vagões dezenas de pessoas, um número muito inferior ao grupo de habitantes que se reuniu para as enfrentar. Em razão disso, decidem abortar o plano e, mais uma vez, algo que já é previsto acontece. Escutam-se gritos com pedidos de piedades que ecoam a quilômetros de distância, pessoas sendo arremessadas de cima das casas, queimadas vivas. Tal barbárie é capaz de tocar mesmo o coração dos incapazes de sentirem qualquer comoção.

Este último acontecimento foi o estopim para os que ainda permaneciam nesse lado da cidade estabelecerem-se no outro. Nunca mais se viu ou sequer ouviu o barulho da máquina que por anos aterrorizou aquele povo. E ainda hoje esse caso é um enigma que embora não tenha sido solucionado, por uma causa desconhecida, desapareceu de cena, mas deixou um rastro de terror na memória das pessoas que
habitavam naquele lugar.