O diretor geral do Hospital de Urgência de Teresina (HUT), Gilberto Albuquerque, afirma que, o crescimento do número de atendimentos em 2018 tem provocado sérios problemas ao hospital, como a falta de insumos e o atraso de cirurgias. Segundo a direção, a ouvidoria do HUT detectou que a maioria dos pacientes atendidos é proveniente do interior do Piauí e Albuquerque avalia que um percentual considerável de casos que dão entrada vindo de outras cidades não precisaria chegar ao HUT para ser resolvido.
“A gente entende o desespero desses pacientes. Sem opção de tratamento de saúde eles recorrem às UPAs em Teresina para conseguirem acesso ao HUT. Com receio de não conseguir atendimento, o paciente informa um endereço de algum amigo ou parente de Teresina. Com isso, o HUT, que foi construído para atender uma capital com 800 mil habitantes, acaba virando referência para o estado inteiro, com 224 municípios. Ou seja, mais de 3 milhões de habitantes. Além disso, atende pacientes de outros estados como o Maranhão e o Ceará”, critica o diretor.
O primeiro problema que a superlotação causa ao hospital é a falta de espaço físico suficiente. O diretor conta que já foram tomadas várias medidas para agilizar o atendimento e não deixar os pacientes sem assistência, mas, além disso, há falta de insumo e atraso nas cirurgias, que são situações mais críticas. Gilberto Albuquerque aponta números que, segundo ele, explicam a superlotação do HUT: os hospitais do interior estão realizando menos cirurgias nos últimos anos.
“Segundo o Data SUS, o hospital de Campo Maior, por exemplo, de março a agosto de 2018 realizou 204 cirurgias ortopédicas. Nesse mesmo período de 2014, o mesmo hospital realizou 326 cirurgias ortopédicas. É possível verificar que foram 122 cirurgias a menos em um período de seis meses. Outro exemplo que podemos citar é o hospital de Esperantina, que nesse mesmo período deixou de realizar 104 cirurgias. Com isso, parte dessa demanda acaba chegando ao HUT que já trabalha na sua capacidade máxima”, lamentou o diretor.
Menos transferências
Outra questão criticada pelo diretor é a redução do número de transferências para os hospitais de retaguarda do HUT, que são três, o Hospital Getúlio Vargas (HGV), o Hospital Universitário (HU) e o Hospital da Polícia Militar (HPM). De acordo com o gestor, em alguns casos, é preciso esperar um mês para transferir o paciente.
Gilberto argumenta que é preciso que esses locais disponibilizem mais vagas. “O HUT é um hospital de urgência e emergência, principalmente para o trauma. Portanto, nosso papel é fazer o primeiro atendimento para livrar o paciente do risco iminente de morte e depois, se o caso for o caso, solicitar a transferência para um hospital de retaguarda, especializado no caso do paciente. Essas transferências não estão mais acontecendo de maneira satisfatória. Estamos recebendo o paciente e sendo obrigados a aguardar por um leito, muitas vezes, por até 30 dias. Isso acaba prejudicando o atendimento de outros pacientes”, explicou.
Para não comprometer o atendimento dos mais graves, o HUT adotou o Protocolo de Acolhimento com classificação de risco do Ministério da Saúde. Esse dispositivo prioriza o atendimento dos pacientes em estado mais crítico, que passam na frente dos pacientes que já estão estáveis e que podem aguardar a cirurgia.
Mais acidentes
Outro problema que acaba contribuindo para a superlotação do HUT é o aumento contínuo dos acidentes de trânsito, por conta principalmente da imprudência dos motoristas. No último mês de setembro o Hospital registrou um aumento de 29,4% no número de atendimento de vítimas de acidentes de trânsito, se comparado com o mês de agosto.
Setembro foi o mês que registrou o maior número de atendimento de vítimas de acidentes de trânsito do ano de 2018. Com relação aos atendimentos de vítimas de acidentes com motocicleta, o aumento foi de 25,5%, também se comparado com o mês de agosto. Foram 1.075 atendimentos de acidentes de trânsito, sendo que 913 foram somente vítimas de acidentes com motocicleta, representando 84% do total de acidentes. Somente este ano o HUT realizou 41.721 atendimentos e 10.396 cirurgias.
Sesapi responde
O secretário estadual da Saúde, Florentino Neto, informou que existem outros motivos para o que ele considerou “suposta queda no número de cirurgias”.
“A gente ampliou o número de cirurgias no hospital de Luzilândia, e isso pode ter sido uma das causas dessa queda nos procedimentos de Esperantina. Não podemos pegar dados isolados, avaliar um hospital só e dizer que os hospitais do interior estão caindo no atendimento. Precisamos comparar levando em conta o contexto, mas dificilmente houve uma redução real”, rebateu o gestor da Sesapi.
Florentino informou que vai levantar os dados de todos os hospitais do estado e comparar com os anos anteriores para provar que houve aumento no número de procedimentos. “Vamos contestar essas informações de queda”, garantiu.