O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou, durante um ato pela defesa do projeto da anistia, neste domingo (16), que não vai sair do Brasil e será um ator de pressão para opositores “preso ou morto”. Ele sustentou que as acusações que responde na Justiça são “narrativas” e chamou a tentativa de golpe de Estado de “historinha”.
“Só não foi perfeita essa ‘historinha’ de golpe para eles porque eu estava nos Estados Unidos. Se tivesse aqui, estaria preso até hoje ou, quem sabe, morto por eles. Eu vou ser um problema para eles, preso ou morto. Mas, eu deixo acesa a chama da esperança, da libertação do nosso povo, afinal, o Brasil é um país fantástico”, afirmou.
Em mensagem aos opositores políticos e à própria Justiça, o ex- chefe do Executivo reafirmou a intenção de se candidatar à presidência em 2026 e disse que “eleição sem Bolsonaro é negar a democracia no Brasil”. “Se sou tão ruim assim, me derrote”, desafiou.
Ao comentar a questão da inelegibilidade, Bolsonaro questionou a decisão e disse que ninguém “encontrou dinheiro na cueca ou em caixas no seu apartamento”. Ao sustentar haver uma perseguição, o ex-presidente citou as investigações da morte da vereadora Marielle Franco, da venda de joias dadas a ele por autoridades internacionais, da falsificação de certificados de vacinas contra a Covid-19, do suposto sumiço de móveis do Palácio da Alvorada. Segundo ele “tudo foi embora e sobrou somente a fumaça do golpe”.
Após o fim do ato em Copacabana, a Polícia Militar do Rio informou que a manifestação reuniu 400 mil pessoas, sem registros de ocorrências. No entanto, um levantamento do Monitor do Debate Público do Meio Digital, do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) da USP, apontou que o protesto reuniu 18,3 mil pessoas. O valor representaria menos de 2% do público de um milhão de pessoas que era aguardado para o ato.
O levantamento foi feito com uso de drone, que tirou fotos aéreas da multidão com um software específico. Conforme o relatório da USP, o método possui uma precisão de 72,9% e uma acurácia de 69,5% na identificação de indivíduos. Na contagem de público, o erro percentual absoluto médio é de 12%, para mais ou para menos, em imagens aéreas com mais de 500 pessoas. O banco de imagens utilizado para a contagem da manifestação está disponível para consulta.
Anistia
Durante a fala, Bolsonaro voltou a defender acusados presos pelos atos do 8 de Janeiro e afirmou que os parlamentares já teriam os votos para aprovar a proposta de anistia. No caso de um veto presidencial, haveria força para derrubada no Congresso, alegou Bolsonaro.
“Nós temos um compromisso que está no coração de cada um de vocês – é buscar anistia para nossos irmãos e irmãs que estão presos. Não podemos continuar tendo ‘órfãos de pais vivos’ pelo Brasil. Não existe maldade maior do que essa”, afirmou.
Conforme mostrou o R7, deputados de oposição avaliam uma anistia parcial aos condenados pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Ao tornar o texto menos radical, isso daria força para uma aprovação.
Ao todo, os condenados pelos atos foram enquadrados em cinco crimes: tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa e deterioração de patrimônio público.
Tramitação
O relator da proposta que concede perdão a condenados pelo 8 de Janeiro, deputado Rodrigo Valadares (União-SE) afirmou neste domingo (16) que “a anistia está mais viva do que nunca”. A frase foi dita durante manifestação ao lado do ex-presidente Bolsonaro. “Quantas vezes decretaram a morte da anistia? Mas, eu venho trazer uma palavra de esperança: a anistia está mais viva do que nunca e nós iremos aprovar ela aqui no Brasil”, disse.
Alimentos
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), usou o espaço no palanque durante as manifestações pró-anistia para tecer críticas à gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e apoiar uma possível volta de Jair Bolsonaro ao Executivo Federal. Tarcísio citou a alta no preço dos alimentos como argumento e disparou: “Prometeram picanha e não tem nem ovo.”
Segundo Tarcísio, “o grande problema” atualmente é que “ninguém aguenta mais o arroz caro, o feijão, a gasolina, o ovo caro”. Ele avaliou que a alta inflação é motivada por “um governo irresponsável que gasta mais do que deve”.