A disciplina mais rigorosa nos presídios cearenses, desde o início de 2019, é tida como o estopim dos ataques. Em uma reportagem especial, o Fantástico deste domingo (13/01) mostrou o que mudou na rotina dos presos e porque as facções se sentiram incomodadas a ponto de reagir. A onda de violência que assusta os moradores do estado já dura onze anos.
Em 2019, está sendo registrado a maior onda de violência do Ceará. Uma reação do crime organizado contra as mudanças na gestão dos presídios, uma política que divide opiniões, e coloca a população no meio do fogo cruzado.
Uma onda de ataques como nunca aconteceu, ninguém sabe quando ou onde vai ser o próximo, os alvos são variados. Os ataques com alvos aleatórios, são recados com endereço certo, secretário de governo.
O secretário é conhecido por ter um pulso firme, intensificando as ronda e vistorias, para remover qualquer tipo de comunicação dentro das celas.
A dois anos, o secretário Luís Mauro Albuquerque assumiu o comando das cadeias do Rio Grande do Norte, em meio a rebeliões e massacres em Alcaçuz, por lá, acabou com a separação de presos por facções e implantou rotinas de inspeção e disciplina, ele foi convidado a fazer o mesmo trabalho no Ceará.
Os ataques iniciaram em uma noite depois da posse do secretário, após uma declaração de Luís: “Eu não reconheço facção, o estado não deve reconhecer a facção”.
As medidas do governo mexeram com o domínio das facções nos presídios, a três anos, as unidades foram separadas por grupos criminosos e as regalias deles só aumentaram nesse período.
“Comunicação total, via telefone, ventiladores, girl, enfim, uma série de benefícios que tinham os detentos”, disse Valdemiro Barbosa, presidente do sindicato dos Agentes Penitenciários do Ceara, ao Fantástico.
Boa parte das mortes são vinculadas a essa guerra, essa disputa entre grupos criminosos rivais, e por isso a decisão de atingir fortemente os interesses desses grupos criminosos.
Além do fim das regalias, o governo transferiu chefes de facções para presídios federais e fechou cadeias no interior e o crime reagiu.
Prédios públicos, lojas, ônibus e até viaduto viraram alvo dos bandidos. Já foi registrado pelo menos 200 ataques em 44 cidades. Em cerca de 353 presos suspeitos de envolvimento nos ataques, cerca de 1/3, 115 são adolescentes.