Piauí comemora 203 anos com reconhecimento nacional do seu artesanato

Com 203 anos de história, o Piauí celebra seu aniversário com conquistas significativas na valorização da cultura popular. Entre os destaques, o artesanato se consolida como uma das expressões mais autênticas da identidade piauiense, ganhando reconhecimento nacional e estadual por meio de técnicas tradicionais que atravessam gerações e movimentam a economia local.

Nesse contexto, um dos avanços mais recentes é o reconhecimento da arte santeira em madeira como Patrimônio Cultural do Brasil, declarado oficialmente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O modo de fazer, transmitido por mestres artesãos em diversas cidades do estado, representa um saber ancestral que une fé, criatividade e vínculo com o território, reforçando o papel do artesanato como elemento de preservação da memória coletiva.

Complementando esse cenário de valorização, recentemente o Governo do Estado também oficializou, por meio de decreto assinado pelo governador Rafael Fonteles, o reconhecimento do artesanato de cerâmica em argila branca, produzido no bairro Curtume, em Floriano, como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Piauí. A medida fortalece uma tradição quase centenária que se consolidou como um dos principais símbolos da identidade cultural da cidade.

Produzida manualmente por famílias do Curtume, a cerâmica em argila branca ganhou notoriedade pela técnica artesanal transmitida de geração em geração. O material, que na extração é escuro e após a queima adquire coloração clara, é considerado raro no Brasil e tornou-se marca registrada do bairro. Maria das Mercês, presidente da Cooperativa do Artesão dos Curtume (Cooargila), trabalha há 47 anos com o artesanato em argila e destaca a importância da conquista. “Eu gosto demais de artesanato. É por meio dele que obtemos o sustento da nossa família. Ver a cerâmica aqui do Curtume reconhecida é muito gratificante”, afirma.

Enquanto tradições centenárias são reconhecidas, o artesanato piauiense também se renova por meio de iniciativas contemporâneas. Renata e Eduarda Cruz, irmãs e fundadoras do ateliê Oxente Flowers, são exemplos dessa nova geração de artesãs que alia sustentabilidade e identidade regional. Elas utilizam materiais que antes seriam descartados e os transformam em arte. “Reutilizamos madeira, fibras (carnaúba e coqueiro), tecido e outros materiais recicláveis, dando vida nova a cada pedaço que iria para o lixo. Nosso processo é consciente e feito à mão, respeitando os ciclos e recursos do meio ambiente. Nosso artesanato carrega elementos do sertão, da fauna, flora e cultura popular do Piauí. As peças homenageiam lugares como Serra da Capivara, Cabeça de Cuia, Carnaúba, Mandacaru, Vaqueiro, entre outros”, comentam.

(Foto: Eduarda Cruz-Oxente Flowers)
(Foto: Eduarda Cruz-Oxente Flowers)

Inspiradas pela tradição da modelagem em cerâmica, as irmãs desenvolveram uma técnica própria que une papelão e massa corrida. “Evidenciamos a transformação do papelão e massa corrida em arte com textura e sentimento. Cada relevo nasce do toque das mãos, do cuidado e da vontade de reinventar o simples. Inspirada na tradição piauiense da modelagem em cerâmica, essa técnica celebra o fazer manual e o vínculo com nossas raízes. As peças ganham cor, leveza e resistência, mantendo viva a essência do feito à mão e do feito com o coração”, explicam.

Para ampliar ainda mais o alcance do artesanato local, o estado investe em inclusão digital e expansão de mercados. O programa Made In Piauí foi criado para permitir que empreendedores e artesãos que antes vendiam somente em feiras, lojas físicas ou para públicos locais possam acessar novos mercados com estrutura tecnológica de ponta e suporte contínuo.

(Foto: Eduarda Cruz-Oxente Flowers)
(Foto: Eduarda Cruz-Oxente Flowers)

 

Exposição celebra saberes tradicionais da madeira e amplia visibilidade do artesanato

Como parte das ações que promovem o fazer manual e os ofícios tradicionais, a Casa do Artesão Design Mestre Albertino, localizada na Central de Artesanato Mestre Dezinho, abriu suas portas para a exposição “Carpintaria Naval Artesanal em Escala Reduzida”, do artesão Ulisses Lima.

A mostra, que segue até o dia 24 de outubro, apresenta miniaturas de embarcações tradicionais esculpidas em madeira, reproduzidas com impressionante realismo. Logo na estreia, o espaço recebeu um público diversificado, entre visitantes, apreciadores da arte e um grupo de estudantes do Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) Professor Mariano da Silva Neto, do município de Jaicós.

(Foto: Ascom Secult)
(Foto: Ascom Secult)

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