Piloto reafirma ter transportado dinheiro em dia de encontro com Ciro Nogueira, revela ICL Notícias

O piloto Mauro Caputti Mattosinho reafirmou ter transportado em voo uma sacola de papelão que aparentava conter dinheiro vivo, na mesma data em que Beto Louco mencionou a outros passageiros que teria um encontro com o senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP. A revelação foi publicada pelo ICL Notícias e assinada por Leandro Demori, Cesar Calejon e Flávio VM Costa.

A informação foi divulgada pela primeira vez em 1º de setembro, quando Mattosinho ainda não havia decidido revelar sua identidade. Indignado com as conversas que presenciou, ele procurou a reportagem pela primeira vez em novembro do ano passado. O piloto depôs à Polícia Federal no dia 30 de agosto e concedeu entrevista gravada confirmando sua versão.

Antes da publicação inicial, Ciro Nogueira negou proximidade com Beto Louco e afirmou jamais ter recebido valores. Ele disse ter colocado seus sigilos bancários, telefônicos e telemáticos à disposição da Justiça e processou o ICL Notícias pedindo indenização por danos morais.

“O senador tem direito de buscar a Justiça em uma sociedade em pleno exercício do Estado Democrático de Direito. Não o teria em caso de ditaduras, nem armadas e nem de toga. O ICL Notícias não se intimida com tentativas de assédio judicial e reafirma a qualidade de suas práticas jornalísticas”, reagiu Leandro Demori, diretor do veículo.

Viagens com líderes do PCC

Até 15 dias atrás, Mattosinho trabalhava na empresa Táxi Aéreo Piracicaba (TAP), onde atuava como piloto de Beto Louco e de Mohamad Hussein Mourad, o “Primo”. Ambos são apontados pelo MP-SP e pela PF como chefes de um esquema do PCC que usava fundos de investimentos na Faria Lima para lavagem de dinheiro e fraudes fiscais bilionárias no setor de combustíveis.

Segundo o piloto, ele realizou pelo menos 30 viagens com os dois suspeitos desde novembro de 2023.

Na nova entrevista, Mattosinho acrescentou detalhes sobre o voo de 6 de agosto de 2024, de São Paulo a Brasília (com escala no Rio). Durante a viagem, funcionários da Copape, empresa do setor de combustíveis investigada pela PF, carregavam a sacola que, segundo ele, deveria ser tratada com cuidado especial por conter dinheiro.

Veja o vídeo:

“No desembarque em Brasília, ouvi Roberto Leme perguntando se estava tudo certo com o Ciro, se o Ciro já estava os aguardando. A forma como se referiu foi: o senador Ciro”, relatou.

O piloto filmou a sacola e apresentou o vídeo à reportagem, que confirmou sua autenticidade.

Registros e apurações

O Senado afirmou que não há registros de entrada de Roberto Leme e Mohamad Mourad no gabinete de Ciro Nogueira em 2024. Contudo, a instituição negou pedido via Lei de Acesso à Informação para detalhar acessos a outras dependências.

Na época, empresas ligadas a Beto Louco e Primo, como a Copape e a Aster, buscavam junto à ANP e ao Congresso reverter sanções e mudanças legislativas no setor de combustíveis.

A checagem da rota foi confirmada pelo site Adsb Exchange, que mostra o bimotor Israel G150, prefixo PR-SMG – citado pelo piloto – cumprindo o trajeto São Paulo–Rio–Brasília no dia indicado.

Esquema financeiro e fundos de investimento

Investigações apontam que Beto Louco e Primo seriam sócios ocultos de Epaminondas Chenu Madeira, dono da TAP, na compra de aeronaves. Documentos públicos também ligam empresas aéreas a fundos de investimento, como o Capri FIP, vinculado a Rogério Garcia Peres, alvo de operação do MP-SP contra o PCC.

Peres, advogado e ex-conselheiro do Carf indicado no governo Paulo Guedes, é acusado de gerir fundos usados pelo grupo. A Altinvest, gestora associada a ele, foi alvo da Operação Carbono Oculto.

Em nota, a Altinvest negou qualquer relação com ilícitos, afirmou não administrar o fundo Capri e ressaltou que atua em conformidade com a legislação e normas da CVM e da Anbima. A empresa disse ainda que Peres nunca teve ligação com o crime organizado e que colabora integralmente com as autoridades.

Com informações do ICL Notícias e 180graus

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