Josiele da Costa Sampaio é policial militar há 10 anos e nunca conseguiu comprar sua casa. Com o nascimento do filho e a necessidade de investir na educação da criança, o desejo de sair do aluguel ficou mais distante de ser realizado.
Foi por isso que ele decidiu acrescentar mais dois trabalhos à sua rotina de plantões na Polícia Militar do Piauí. “Trabalho como segurança em um local e aos finais de semana sou Uber”, afirma Josiele, que tem o descanso prejudicado devido à carga horária tão intensa. “Quando estou muito cansado não vou pro Uber. A PM e o trabalho de segurança eu não tenho como faltar”, completa.
A realidade de Josiele é compartilhada com a de muitos policiais que precisam aumentar a renda. Segundo o presidente da Associação de Cabos e Soldados, Agnaldo Oliveira, os bicos são feitos principalmente na segurança de farmácias, supermercados, em lojas e até nos shoppings. “Aqueles caras ali conversando em frente aos estabelecimentos do centro, são todos policiais”, afirma.
Agnaldo relata como a jornada de um PM é estressante. “Ele cumpre o plantão e às vezes surge um extra que precisa fazer também. Aí, quando chega em casa, só dá tempo tomar um banho e ir para o bico. E isso, inúmeras vezes, respinga na sociedade. Mas eu sei que ela não tem culpa se eu tenho um mau salário”, comenta.
Assim como o esgotamento físico e mental causam danos ao policial, também coloca em risco a vida de outras pessoas. “Se o corpo está cansado, a mente está pior. Então, qualquer coisa eu vou sacar da minha arma. Se estou numa viatura e dormir, morrem eu e meus companheiros, ou então eu atropelo alguém”, afirma.
Outra consequência do acúmulo de trabalho é o assassinato de policiais. A Abecs está finalizando um levantamento com os números de PMs assassinados em serviço, seja como policial ou como segurança, e tem o objetivo de alertar às autoridades para a necessidade de valorização do profissional. “Não temos muita coisa para comemorar no dia 1º de Maio. Nós trabalhamos por amor e vivemos pela dor”, lamenta Agnaldo.
A solução, de acordo com o presidente da Abecs, era maior salário aliado a melhores condições de trabalho. “Se a gente ganhasse R$ 9 mil, tivesse as viaturas funcionando e trabalhasse com os coletes adequados, a realidade era outra”, conclui.
Comida em restaurantes
É comum se ver carros da PM-PI parados em restaurantes de Teresina e outras cidades piauienses no horário de almoço. São policiais pedindo comida aos donos de restaurante para se alimentarem. Os proprietários dos restaurantes dão a comida em troca da proteção, que não passa a ser somente dos seus estabelecimentos comerciais, mas das suas próprias pessoas, dos seus familiares, dos seus amigos… basta um telefonema do dono do restaurante para os policiais beneficiados com a comida, que prontamente os militares estão a disposição do seu “comando”. É uma troca de favores que prejudica a imagem da Polícia Militar do Piauí e tira os policiais da real função de protegerem a sociedade como um todo, dando prioridades especiais aos donos dos restaurantes.
Blitz tiram policiais dos locais onde o crime é mais latente
As excessivas blitz em ruas de Teresina e cidades do interior do Piauí são queixas não somente da sociedade, mas também dos próprios policiais militares. Homens preparados para combater o crime são usados em blitz nas ruas cujo objetivo principal é apreender veículos com documentação atrasada, visando arrecadar dinheiro para as contas do Governo do Estado do Piauí. Ou alguém já ouviu falar de bandido ser preso nessas blitz? Enquanto os policiais estão realizando blitz, os bandidos estão nos bairros da periferia assaltando, matando, traficando, usando drogas, estuprando… Lugar da polícia é nas ruas, fazendo blitz quando necessário, mas principalmente fazendo rondas com carros, motocicletas e a pé; só a presença da polícia nos bairros já inibe a ação dos marginais.
(*) Por: Nayara Felizardo. Edição de Reinaldo Barros Torres