O Governo Federal faz acenos para o mercado tentando dar indicações de que vai realizar, sim, a privatização da Eletrobrás ainda este ano. As contas políticas, no entanto, não fecham: a privatização da empresa está cada vez mais distante, numa situação que se complica por conta do ano eleitoral.
Nessa sexta-feira, o Diário Oficial da União publicou decreto do presidente Michel Temer em que autoriza o início dos estudos de viabilidade para privatização da Eletrobrás. Parece um passo adiante, mas é tão somente um efeito publicitário, um aceno para animar o mercado. De fato, o efeito real é praticamente nulo.
Para que o projeto siga adiante, ele tem que antes ser aprovado pelo Congresso. E lá a ideia de privatização está engasgada, não anda. E não anda por diversos motivos. Primeiro, porque fere interesses políticos paroquiais e fisiológicos: as diretorias da empresa, Brasil afora, são indicações políticas travestidas de caráter técnico. E nenhum político quer abri mão do seu quinhão de indicações.
Segundo ponto é que o ano é eleitoral. A proposta de privatização tenderia a gerar rusgas na relação dos políticos com o eleitorado. Até o momento, os servidores da empresa não entraram para valer contra a proposta. Mas se um passo concreto for dado, as mobilizações serão vistas com mais força. E isso significaria discurso contrário aos patrocinadores ou apoiadores da privatização.
O governo Temer contava muito com a privatização para simplesmente tapar buraco: esperava arrecadar cerca de R$ 12 bilhões com a venda da estatal, dinheiro considerado fundamental depois de frustradas as expectativas com a Reforma da Previdência. Vale lembrar, este ano o governo deve fechar as contas com um rombo de R$ 159 bilhões. Esse dinheiro estava nos cálculos para o rombo não ser maior – e implicar em pedalada.
Base avisa que não apóia proposta
O futuro – nada promissor – da privatização da Eletrobrás ficou claro na reunião que o presidente Michel Temer fez no início da semana com lideranças da base de apoio ao governo no Congresso. E ouviu um rosário de reclamações. Muitas delas contra a indicação de Moreira Franco para o ministério das Minas e Energia: ela teria desagradado os políticos e os técnicos – que promoveram uma verdadeira debandada do Ministério.
Além disso, os político não engolem a ideia do entorno do presidente, para quem as privatizações são parte da agenda positiva. Enxergam bem diferente, e com razão: pesquisa DataFolha aponta que dois terços dos brasileiros desaprovam a estatização de empresas como a Eletrobrás.
Se os políticos já não se encantavam com a ideia pela supressão de cargos na estatal, perdem qualquer desejo de defesa da privatização diante do negativo impacto popular.
(*) Por Fenelon Rocha, Cidade Verde