O ex-juiz Sérgio Moro confirmou há pouco, em entrevista coletiva, seu pedido de demissão do comando do Ministério da Justiça.
Moro afirmou que ao aceitar o convite de Jair Bolsonaro para integrar o governo, impôs condições como o combate à corrupção e ao crime organizado, “carta branca” para nomear assessores e dirigentes de órgãos como a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal, e uma pensão para que sua família não ficasse desamparada, já que estaria abrindo mão de mais de 20 anos de carreira na magistratura e de contribuição.
“E o presidente concordou com todas”, ressaltou.
Citou diversas ações do ministério sob o seu comando, como a repressão significativa da criminalidade, com queda de 19% de assassinatos. “Mais de 10 mil brasileiros deixaram de ser assassinatos”, disse ressaltando o trabalho de integração com os estados para a queda nestes números.
E apesar do apoio inicial de Bolsonaro, Moro disse que passou a ser pressionado pelo presidente para a troca do comando na PF. “Não tenho problema em trocar o diretor geral, mas eu preciso de uma causa, um problema de desempenho, um erro grave”, justifica o ex-juiz sobre a insistência do presidente, avaliando ainda como bom o trabalho de Maurício Valeixo, exonerado hoje.
Afirmou que a troca é “uma violação da promessa que foi feita” inicialmente pelo presidente, deixando clara a interferência política na Polícia Federal.
Moro falou da conversa que teve ontem com o presidente, onde sinalizou que a troca seria uma interferência política, e sugeriu uma indicação técnica, que representasse uma continuidade do trabalho. “O grande problema não é a questão de quem colocar, mas por que trocar, e permitir que seja feita interferência política no âmbito da Polícia Federal”, relata.
Segue relatando que a intenção explicitada por Bolsonaro era de ter um contato com quem pudesse ligar, colher informações, inclusive relatórios de inteligência.
“Enfim, sinto que eu tenho o dever de tentar proteger a instituição Polícia Federal”, diz Moro, pontuando que não seria correto alguém aceitar o cargo para se prestar a tal anseio do presidente.
Sobre a exoneração de Valeixo, Bolsonaro disse que foi surpreendido e negou pedido por parte do diretor. “Não é verdadeiro. Pra mim, esse último ato é uma sinalização que o presidente me quer fora do cargo”, ressalta. “De todo modo, meu entendimento foi que eu não tinha como aceitar essa substituição. Há uma questão envolvida também da minha biografia como juiz”, completou, citando que não ia compactuar com “relações impróprias”.
Sobre o futuro, como não pode mais voltar para a magistratura, Moro diz que pretende descansar um pouco. “Vou procurar mais adiante um emprego, não enriqueci no serviço público, e quero dizer que independentemente de onde eu esteja, sempre vou estar à disposição do país”