Em solenidade das mais prestigiadas o escritor e professor universitário José Octávio de Castro Melo, nascido em 16 de Março de 1968, foi empossado na Cadeira 4 da Academia de Letras do Vale do Longá na noite desta Sexta-feira, 18 de Janeiro de 2019. O novel acadêmico ocupou a Cadeira que tem como patrono o poeta e jornalista João Pinheiro e primeiro ocupante o poeta e jornalista Herculano Moraes.
Coube ao acadêmico Reinaldo Barros Torres, titular da Cadeira 12, patronímica de Segismundo Antônio Gonçalves, fazer o discurso de recepção ao novo imortal. A advogada Joyce Uchoa de Castro Melo, esposa de José Octávio de Castro Melo, foi a responsável por colocar o Manto Acadêmico sobre os ombros do novo membro da Academia de Letras do Vale do Longá. Coube a Luís Octávio Barros Melo, filho do novel acadêmico, entregar o Diploma ao seu pai.
A solenidade foi dirigida pelo presidente José Itamar Abreu Costa e o mestre de cerimônia foi o acadêmico Antônio Pedro Almeida Neto. Coube aos acadêmicos Manoel Monte Filho e Antenor de Castro Rego Filho compor a comissão indicada pelo presidente para fazer adentrar ao recinto do sodalício o novo acadêmico José Octávio de Castro Melo.
Leia abaixo o discurso de recepção proferido pelo acadêmico Reinaldo Barros Torres, titular da Cadeira 12.
Excelentíssimo senhor presidente da Academia de Letras do Longá, Itamar Abreu Costa, Doutor Carlos Augusto de Oliveira Medeiros Júnior (presidente da Sub-seção da OAB-PI de Barras) – no nome de quem cumprimento os demais integrantes da mesa; Doutor Walfran Batista da Silva Silva – no nome de quem cumprimento todos os presentes neste seleto auditório.Senhores acadêmicos, seleto auditório, peço a permissão, inicialmente, para dividir minhas palavras com todos os acadêmicos e convidados que me concedem, neste momento, o prazer da companhia e a honra do comparecimento a esta solenidade de posse. Justifico não como a simples presteza de um orador, mas fundado no pensamento de Montaigne que, inspiradamente, definiu esta relação ao dizer que “as palavras pertencem metade a quem fala, metade a quem ouve”. Assim, de antemão, prometo tentar tornar minhas palavras, pelo menos quanto à metade que me cabe, não na mais extensa ou profunda das peças já discursadas nesta Academia, mas pelo menos em um pronunciamento capaz de receber o acolhimento e a reflexão por parte das senhoras e dos senhores.
Fundada em 23 de Setembro de 1978 a excelsa Academia de Letras do Vale do Longá tem sede na cidade de Barras, conhecida como Terra dos Governadores, Terra dos Poetas, Terra dos Marechais e Generais, Terra dos Intelectuais. O rótulo Terra dos Intelectuais foi construído ao longo do tempo, social e historicamente, a partir de diversos fatores: influência politica e cultural da Família Pires Ferreira, sobretudo do senador Joaquim Pires, uma espécie de preceptor dos barrenses e piauienses no Rio de Janeiro, então capital federal. Construção histórica, também, resultado do grande número de barrenses com assento na Academia Piauiense de Letras, inclusive com grande participação na fundação da entidade em 1917; entre os 10 fundadores, três barrenses: João Pinheiro, Fenelon Castelo Branco e Celso Pinheiro.
Até hoje Barras permanece como a cidade com maior número de filhos na Academia Piauiense de Letras. Essa imagem se relaciona ao brilho conseguido por centenas e centenas de barrenses nos mais variados campos do saber e da arte. Uma história já largamente difundida em livros como: Chão de Estrelas da História de Barras (de Wilson de Carvalho Gonçalves), obra que nos orgulha e nos estimula a lutar em favor da sociedade. Ainda que se destacar o lugar da Academia de Letras do Vale do Longá na consolidação dessa imagem, labutando na preservação dos valores do passado. Com 40 Cadeiras esta academia congrega no seu seio os mais representativos nomes da inteligência, da literatura, das artes e da cultura do norte do Piauí, em especial da extensa região do Vale do Rio Longá.
Nos reunimos hoje para saudarmos e empossarmos o novel acadêmico José Octávio de Castro Melo, mas também para reverenciarmos a memória e obra do patrono da Cadeira 4, poeta e jornalista João Pinheiro e seu primeiro ocupante, poeta e jornalista Herculano Morais, grandes homens que cultivaram com nobreza a arte da literatura e deixaram eternamente seus nomes gravados na história – como deve fazer todo imortal, pois só assim aqui na Terra nos tornamos de fato um Imortal.João José Pinheiro Filho (ou João Pinheiro), era o primogênito do coronel João José Pinheiro e de Amália Antônia Rodrigues. Sua mãe era filha do Coronel João Antônio Rodrigues, que juntamente com o irmão José Antônio Rodrigues, ambos oriundos de Brejo-MA – patriarcas da Família Rodrigues Lages, de Barras, foram presidentes do Conselho Colonial da Vila de Barras do Marathaoan. A tataravó deste que vos fala, Rosa Florinda Rodrigues, portanto da Família Rodrigues Lages, é a matriarca dos Torres do município de Nossa Senhora dos Remédios-PI e, prima do poeta João Pinheiro. Destacamos que João Pinheiro é também membro da Família Rego Castelo Branco, descendente de Joaquim José do Rego, proprietário da Fazenda Peixe, hoje cidade de Nossa Senhora dos Remédios.
João Pinheiro nasceu em Barras-PI em 16 de Maio de 1877. Seu pai, professor de primeiras letras, era maranhense da cidade de Rosário, morando por muitos anos em Barras, onde tornou-se líder político, exercendo os cargos de Secretário de Estado, membro do Conselho Municipal e Deputado Provincial, chegando à presidência da Assembleia Legislativa. Concluídos os estudos básicos, João Pinheiro mudou-se para a cidade de Parnaíba, onde trabalhou no comércio e deu sequência aos estudos. Veio para Teresina em 1895 e logo foi para Salvador (Bahia) matriculado no curso de Odontologia, concluído em 1898. Retornando a Teresina, passa a ocupar destacados cargos na administração pública. Poeta, em 1917 fundou, com mais nove intelectuais da época, a Academia Piauiense de Letras, passando a ocupar a cadeira de número 2. Para a literatura piauiense, João Pinheiro deu uma nova dimensão à história curta, ao conto, resgatando tradições, lendas e costumes. Entrou para história, principalmente, como historiador de nossa literatura, cujo trabalho serviu de base a todos que escreveram sobre o assunto depois dele.
Já o primeiro ocupante da Cadeira 4 da Academia de Letras do Vale do Longá, Herculano Moraes da Silva Filho, nasceu em São Raimundo Nonato, em 1945. Era filho do delegado de Polícia do Município, o sargento da PM, Herculano Moraes, e da senhora Olindina Carlos da Silva. Com a morte do pai, quando tinha apenas seis meses de nascido, coube à família de Manoel Soares Gondim a educação do menino Herculano.
Ele abraçou desde cedo a profissão de jornalista. Em sua longa carreira, exerceu as funções de repórter, redator, articulista, crítico literário e editor dos principais jornais do Piauí. Atuou também no rádio. Ainda jovem, dedicou-se às letras, projetando-se como uma das principais expressões da literatura piauiense.
Como jornalista e intelectual, fundou a UBE-PI e o Círculo Literário Piauiense – CLIP, que revelaria para a literatura nomes como Hardi Filho, Francisco Miguel de Moura, José Magalhães da Costa, Osvaldo Lemos e Geraldo Borges.
Poeta, historiador da literatura, cronista, articulista, autor de várias obras, em que se destacam ‘Murmúrios ao Vento’, ‘Território Bendito’, ‘Meus Poemas Teus’, ‘Legendas’ (Poesias), ‘Ethos’ (crônicas e artigos), ‘Fronteiras da Liberdade’ (romance) e ainda ‘Visão Histórica da Literatura Piauiense’, livro referencial da historiografia literária, em sua 8ª edição.Desde 1980, era membro da Academia Piauiense de Letras. Pertencia também a outras instituições culturais, como Academia de Letras do Vale do Longá, Academia de Letras do Médio Parnaíba, Academia de Ciências do Piauí; Academia de Letras, História e Ecologia da Região Integrada de Pastos Bons (Maranhão), Academia Piauiense de Futebol e Academia do Leste Maranhense. Era presidente honorário da Academia Piauiense de Jornalismo e presidente de Honra da Academia Piauiense de História.
Apaixonado por Teresina e por tudo que é do Piauí, Herculano Moraes assim escreveu falando sobre um período de enchente do Rio Parnaíba.
“O Rio de Minha Terra”
O rio de minha terra é um deus estranho. Ele tem braços, dentes, corpo, coração, muitas vezes homicida, foi ele quem levou o meu irmão. É muito calmo o rio de minha terra. Suas águas são feitas de argila e de mistérios. Nas solidões das noites enluaradas a maldição de Crispim desce sobre as águas encrespadas. O rio de minha terra é um deus estranho. Um dia ele deixou o monótono caminhar de corpo mole para subir as poucas rampas do seu cais. Foi conhecendo o movimento da cidade, a pobreza residente nas taperas marginais. Pois tão irado e tão potente fez-se o rio, que todo um povo se juntou para enfrentá-lo. Mas ele prosseguiu indiferente, carregando no seu dorso bois e gente, até roçados de arroz e de feijão. Na sua obstinada e galopante caminhada, destruiu paredes, casas, barricadas, deixando no percurso mágoa e dor. Depois subiu os degraus da igreja santa e postou-se horas sob os pés do Criador. E desceu devagarinho, até deitar-se novamente no seu leito. Mas toda noite o seu olhar de rio fica boiando sob as luzes da cidade.
Herculano Moraes morreu numa quinta-feira, 17 de Maio de 2017, deixando um grande vazio no mundo cultural, social, jornalístico e acadêmico do Estado do Piauí. A ele, sua história e sua memória, minha reverência!
Voltemos pois a Barras, cidade onde nasceu João Pinheiro e que sempre foi muito amada por Herculano Moraes. Ano de 1977, Dona Nina, esposa do poeta Octávio Melo, resolve subitamente viajar para Parnaíba. Muito católica, não perdia uma missa celebrada pelo Padre Mário José de Menezes na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Devido à viagem ao litoral piauiense, Dona Nina queria avisar ao vigário a impossibilidade de comparecer a missa naquele dia; delegou então ao inteligente e peralta neto José Octávio de Castro Melo a ir até Padre Mário passar a informação. José Octávio só lembrou de dar o recado quando olhou para a Igreja e viu os fieis cantando e rezado… saiu correndo pelos canteiros da Praça Senador Joaquim Pires Ferreira, subiu as escadas do patamar da Igreja Matriz, e no toc-toc das botas ortopédicas que usava, entrou correndo até o altar no momento em que Padre Mário fazia a consagração da hóstia, levantando o cálice… Puxando com força na batina do padre, ele disse em voz alta: “Padre Mário, Padre Mário, a vovó Nina mandou dizer que não pode vir hoje à missa, pois viajou para Parnaíba”. Sem nem notar o olhar reprovativo do padre, José Octavio voltou correndo num silêncio “encabulado” dos fiéis que apenas voltavam a ouvir o toc-toc das suas botas…Nascido em 16 de Março de 1968, filho único do casal, advogado Oscar Thompson de Castro Melo e Maria da Conceição Araújo, José Octávio de Castro Melo é casado com a advogada Joyce Uchôa de Castro Melo, com quem tem a felicidade de ter dois filhos: Antônio Carlos Barros Neto e Luís Octávio Barros Melo.
De feliz infância na cidade de Barras, chão presente nas suas mais singelas lembranças, fez dos rios Marathaoan e Longá a via para seu barco da vida navegar em berço esplêndido por bons e memoráveis anos. No início da sua adolescência a família migrou para Teresina, onde José Octávio de Castro Melo concluiu seus estudos, formando-se em Direito. Advogado, professor universitário, bacharel em direito pela Universidade Federal do Piauí, tornou-se especialista em direito processual pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestre em teoria e filosofia do direito pela Universidade Federal de Pernambuco, professor titular da Universidade Estadual do Piauí, do Instituto Camilo Filho e da Facid.
José Octávio de Castro Melo é neto do poeta Otávio Melo, sobrinho do médico, intelectual e ex-governador do Piauí Leônidas de Castro Melo (exibir a caneta e falar da fundação do Grupo Escolar Matias Olympio), sobrinho de Eurípedes de Castro Melo (desembargador e presidente do egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Estado do Piauí). O novel acadêmico que adentra aos umbrais da imortalidade na excelsa Academia de Letras do Vale do Longá é de uma prole de homens e mulheres cultos, inteligentes, de poetas, juristas e escritores. Essa veia literária e de destacada inteligência também foi herdada por José Octávio de Castro Melo. Autor das obras da literatura jurídica CIENCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO (na sua terceira edição), e PETIÇÃO INICIAL, o autor expressa nas suas obras a vocação para o Direito e mais uma vez também a vocação de muitos dos seus familiares.
Sobre a obra CIENCIA POLÍTICA E TERORIA GERAL DO ESTADO, publicada pela Editora Dinâmica Jurídica, o professor de direito José Augusto Paz Ximenes Furtado, disse: “É uma obra que reflete muito esmero, abrangência, objetividade, além de revestir-se de um matriz humanístico, tão necessário nos dias de hoje para quem se propõe a escrever uma obra acadêmica sem perder-se no tecnicismo costumeiro. Sem dúvidas o autor José Octávio de Castro Melo, com precisão cirúrgica, deixa emergir de cada página sua inteligência, sensibilidade, e formação respeitável”.
Na obra PETIÇÃO INICIAL, também publicada pela Editora Dinâmica Jurídica, o autor abrange a análise dos requisitos de uma petição inicial e prática de cada uma das etapas para a fixação do conteúdo. Trata-se portanto de uma obra imprescindível tanto para alunos do curso de Direito como para profissionais da área jurídica que buscam compreender a lógica, a sistemática, a estruturação e as alterações que a mudança legislativa trouxe ao cotidiano da boa técnica na elaboração de petições processuais. Apaixonado pelo magistério, pelas letras, José Octávio de Castro Melo pousa agora no Jardim de Academus… no berço dos imortais da Academia de Letras do Vale do Longá, recebe o manto que o purifica para adentrar ao mundo dos imortais. Seja muito bem vindo, aqui trabalhamos pelas letras e pelas artes, pela perpetuação da história e para dignificar a vida.
José Octavio de Castro Melo a Cadeira 4 é sua, honre o trabalho do patrono João Pinheiro, do primeiro ocupante Herculano Moraes, de todos os grandes nomes que já tomaram assento nas 40 Cadeiras deste sodalício. Vamos à luta. A Academia de Letras do Vale do Longá é viva.. é eterna.
Tenho dito.
Muito obrigado.
REINALDO BARROS TORRES
Titular da Cadeira 12, patronímica de Segismundo Antônio Gonçalves