Ex-pescador ‘encanta iguanas’ na beira do Rio Parnaíba

Vivendo há 50 anos na beira do Rio Parnaíba e cuidando de dezenas de iguanas no quintal de sua casa, o aposentado Osmar Ferreira da Silva, de 78 anos, mais conhecido como “Seu Mazinho”, ganhou o apelido de “encantador de iguanas” devido a sua convivência e dedicação aos répteis. Ele diz que já chegou a ter mais de 100 animais.

Todo o encanto pelos animais começou cerca de 20 anos atrás, quando percebeu que uma iguana não saía das árvores do quintal de sua casa.

“Um dia eu tive a ideia de colocar uma fruta próximo ao animal. Depois disso, a cada dia, crescia o número de iguanas que desciam das árvores e se acumulavam no quintal à espera das frutas”, disse.

O aposentado conta que devido à caça e a destruição da vegetação às margens do rio, o número dessa espécie em seu quintal é cada vez menor.

Devido à idade avançada e à osteoporose, que o incomoda há três anos, ele relata com muito esforço que consegue chegar ao quintal para alimentar os animais e ficar um pouco com os bichos que tanto adora e defende.

Apesar do apelido que recebeu, Silva não se considera um ‘encantador’ e apenas trata os animais com o mesmo carinho que recebe.

As iguanas
Em entrevista ao G1, o biólogo Benedito Vieira de Carvalho, afirma que a iguana é um animal silvestre, confundido popularmente com um camaleão. “Não é comum a convivência destes animais com os humanos. Neste caso o que há é um condicionamento do animal com uma pessoa que os alimenta. Tudo na natureza quer carinho e amor, quando recebem apenas retribuem, assim a convivência se torna prazerosa”, relata.

O biológo também disse que é impressionante a interação dos animais com o aposentado. “Se os animais interagem com o ‘Seu Mazinho’ através de gestos ou acenos com a cabeça, o episódio merece ser estudado, diz”.

Ainda de acordo com Vieira, esse tipo de réptil vive na copa de árvores e são herbívoros, se alimentam de frutas e folhas.

Paixão pelo Rio Parnaíba
O aposentado conta que chegou a Teresina em 1952, quando tinha 17 anos. Deixou os pais na cidade de União, região Norte do estado, em busca emprego. Começou a trabalhar como ajudante de caminhoneiros, mas a paixão pela pescaria foi maior.

“Não cheguei a trabalhar nem dois anos como ajudante. Quando via o rio e a natureza a minha paixão falava mais alto. Decidi me dedicar e viver como pescador”, conta.

Com cinco filhos e casado pela segunda vez, o ‘encantador’ vive há mais de 50 anos em uma casa localizada no bairro Pirajá, Zona Norte de Teresina, tendo como quintal o Rio Parnaíba.

O local é visitado por moradores da região que buscam um ‘cantinho de sossego’ no meio da cidade. Entretanto, muitas pessoas, que vão pela primeira vez ao local, se assustam com a presença das iguanas.

“As mulheres gritam, querem jogar pedras, mas eu não deixo isso acontecer. Sei que elas não fazem mal para ninguém e tenho um carinho enorme por estes animais. Aqui o lugar é deles e se queremos morar no mesmo local, temos que aprender a conviver numa boa”, avisa Maria Barbosa, mulher do aposentado.

O que mudou no local
Segundo Silva, os melhores momentos da sua vida foram aqueles vividos da pesca. Ele conta que antigamente todos viviam em função do rio. De lá tiveram o peixe, os legumes e verduras plantadas na vazão do Parnaíba, lava-se a roupa, fazia-se o comércio e transporte de pessoas.

“Antigamente muitas embarcações cargueiras, levando uma grande variedade de produtos, desciam a caminho de outros estados. Também tínhamos uma diversidade enorme de peixes. Hoje, devido à poluição e à grande quantidade de areia no fundo rio, nem pescador temos mais”.

Até o nível da água do Rio Parnaíba não é mais o mesmo. “Já passei por muitas enchentes, mas devido ao grande número de barragens que foram construídas no leito do rio, o nível da água não sobe muito no inverno. Entretanto, isso diminui a oferta de peixes”, lamenta o ‘encantador’.