A adolescente grávida de cinco meses, vítima de um crime bárbaro em Uruçuí, prestou depoimento ontem (03). O delegado adjunto da cidade, Bruno Ursulino, conta que a jovem compareceu à delegacia ao lado da mãe e da tia e chorava bastante, assim como os familiares. Para a Polícia Civil, a versão dela foi possibilitou individualizar a conduta dos menores criminosos. Em depoimento, a vítima contou que dois praticaram o estupro e dois degolaram o rapaz com quem ela tinha um caso amoroso.
“Não só ela, mas todo a família está muito abalada. Na delegacia, a mãe e a vítima choravam muito. O depoimento foi importante para a ajudar a Polícia Civil a entender o que aconteceu. Desde o início, nos colocamos ao lado da vítima e explicamos que, apesar da dor, o depoimento dela era importante para que o caso fosse elucidado com brevidade, os culpados punidos e a Justiça fosse feita”, explica o delegado.
O crime bárbaro ocorreu na madrugada desta quarta-feira (03) e pela manhã os três acusados já haviam sido localizados e apreendidos. Os menores criminosos, que são protegidos pelo ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, têm idade entre 13 e 16 anos. Eles também já prestaram depoimento e contaram versões contraditórias.
“Em alguns pontos eles acabaram se contradizendo. Um fica jogando culpa no outro dizendo que não cometeu o estupro e que foram os outros dois, bem como quem deu o corte no pescoço do rapaz. Contudo, com o depoimento da vítima conseguimos individualizar a conduta dos três. Ela disse que o estupro teve dois autores e um partícipe e o homicídio também teve dois autores e um partícipe, ou seja, um deles participou diretamente dos dois crimes”, explica o delegado que colheu depoimento da vítima.
Em depoimento, a adolescente relatou que seu caso amoroso foi amarrado em uma árvore com a própria camisa e presenciou a violência sexual. Ela contou com riqueza de detalhes como ocorreu o crime e reconheceu os menores assassinos e estupradores.
“Colocamos fotografias dos acusados do crime em meio a outras fotografias e ela os reconheceu e disse o que cada um fez. Também colocamos várias facas para que fosse identificada a usada no crime e ela não teve dúvidas. Além disso, tem uma peculiaridade: a vítima relata que um dos responsáveis por matar seu caso amoroso e jogar o corpo no rio olhou pra ela e disse que deviam matá-la. Contudo, um deles disse: não”, explica Ursulino.
Após o crime, a adolescente grávida saiu correndo em direção ao centro de Uruçuí e encontrou uma guarnição da Polícia Militar. “A PM acionou a Polícia Civil e começamos a diligenciar e acionamos a Polícia Militar do Maranhão, reitera.
Após prestar depoimento, a vítima foi trazida para Teresina onde recebe acompanhamento médico e psicológico.
Crime sem motivação
Bruno Ursulino conta que vítimas e suspeitos não se conheciam. Para a Polícia Civil, o crime não teve motivação e foi praticado por crueldade. Os menores acusados são um do Maranhão e o outro de São Paulo.
“Um deles já foi apreendido mais de 30 vezes e era comum saírem da cidade onde moravam (Benedito Leite- MA) para cometer atos infracionais no município piauiense de Uruçuí. O problema é que são menores de idade e por isso são protegidos pelo ECA. Era comum o trio praticar furtos e roubos nas proximidades da ponte. Neste caso, além do roubo eles ‘evoluíram’ para o estupro e homicídio. O crime foi praticado por crueldade. Eles estavam em cima da ponte esperando alguém passar para agir e o casal passou”, explica o delegado. Apesar da crueldade, o trio conta que, antes de ir para o local do crime, havia ingerido apenas Vodka.
Um dos suspeitos ainda chegou a acusar o rapaz que foi degolado de envolvimento com o tráfico de drogas, o que já foi descartado pela Polícia Civil.
“Essa história do envolvimento da vítima com drogas apareceu no início das diligências, mas não se sustentou pois os próprios suspeitos relataram depois que o rapaz era uma pessoa de bem, não usava drogas e não tinha problemas com ninguém. O crime não teve motivação”, reitera Ursulino.
O delegado ressalta que já solicitou à Justiça a transferência dos menores criminosos para o Centro Educacional Masculino (CEM), em Teresina.
“Jà fizemos o pedido para o juiz, conversamos com o promotor que endossou o nosso pedido. Estamos aguardando apenas o despacho. Vamos”, reitera.
Crime comoveu a todos
O delegado acrescenta que o crime causou espanto até nos próprios familiares dos menores assassinos e estupradores.
“Eles dizem que não sabem o que fazer e estão sem acreditar que os filhos foram capazes de cometer uma barbárie. É uma situação muito delicada. O crime comoveu a todos até mesmo nós que somos da polícia e lidamos com isso todos os dias”, desabafa Bruno Ursulino.
O inquérito tem 30 dias para ser concluído. Além do depoimento da vítimas e dos suspeitos, a Polícia Civil trabalha para descobrir novas provas. Se em 45 dias o protomor não se pronunciar sobre o caso, os menores estarão soltos e livres de qualquer punição conforme determina a “Lei”, o tal ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente.