Vinte e um piauienses foram resgatados de situação análoga à de escravidão nos municípios de Serranópolis, em Goiás, e Boituva, em São Paulo, informou o Ministério Público do Trabalho (MPT) no Piauí nesta segunda-feira (9).
Os resgates foram feitos por equipes do Ministério Público do Trabalho, Ministério do Trabalho e Emprego, Defensoria Pública da União, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal, que compõe o Grupo Móvel de Fiscalização contra o Trabalho Escravo.
Resgate em São Paulo
Em um dos alojamentos, havia apenas um banheiro que era dividido para cerca de 20 pessoas. A higiene íntima dos trabalhadores era feita utilizando pedaços de colchões velhos. As necessidades fisiológicas eram feitas no canavial.
Em Boituva, os trabalhadores atuavam na atividade de corte de cana-de-açúcar. O grupo era formado por 37 cortadores, sendo 17 deles piauienses, que estavam alojados em dois espaços com péssimas condições de higiene e conforto.
Na frente de trabalho também não eram fornecidos os Equipamentos de Proteção Individual (EPI), nem mesmo facões e água potável.
Durante a fiscalização, foi possível identificar o empregador, que assinou um Termo de Ajuste de Conduta (TAC). No documento, ele se comprometeu a pagar todas as verbas devidas aos cortadores.
Além disso, ele deve pagar indenizações por danos morais individuais no valor de R$ 100 para cada trabalhador, por cada dia de trabalho, e uma indenização coletiva de R$ 30 mil, cuja destinação será indicada pelo MPT em momento oportuno.
Os trabalhadores retornaram para o Piauí com transporte e alimentação custeados pelo empregador e foram incluídos para receber o seguro-desemprego.
Resgate em Goiás
Mais de 20 piauienses são resgatados em situação análoga à de escravidão em Goiás e São Paulo — Foto: Divulgação/MPT-PI
Segundo as equipes de fiscalização, eles viviam em condições desumanas, dormindo no chão sobre colchões velhos, sem camas, roupas de cama, e em ambientes sujos, quase desprovidos de mobília básica como mesas, cadeiras, armários e utensílios de cozinha.
Além disso, não estavam registrados formalmente como empregados e as equipes de fiscalização também detectaram uma série de irregularidades na obra.
Dentre as irregularidades, estavam a ausência de condições mínimas de segurança no canteiro de obras e ausência de Equipamentos de proteção individual, deixando os trabalhadores expostos a riscos como choques elétricos, quedas de altura. A obra foi embargada.
Os trabalhadores receberam as verbas rescisórias, totalizando R$ 252 mil, além de R$ 268 mil como indenização por danos morais individuais, que serão pagos em três parcelas mensais.
Além disso, o MTE concederá o Seguro-Desemprego de Trabalhador Resgatado, em três parcelas mensais de um salário-mínimo cada (R$ 1.412,00).
‘Número de resgatados é bastante significativo’
Além dos resgates em Goiás e São Paulo, cinco trabalhadores que atuavam na atividade de pedreiras em Monte Alegre do Piauí foram resgatados no Piauí, em 2024. Totalizando 26 piauienses resgatados este ano.
O número de resgatados ainda é bastante significativo, afirma o procurador do Trabalho Edno Moura, coordenador regional de Combate ao Trabalho Escravo no Piauí.
“Lamentavelmente, ainda vemos muitos piauienses saindo do estado em busca de oportunidades em outros locais e sendo vítimas de trabalho escravo. Eles são ludibriados com falsas promessas e, sem alternativas, acabam se sujeitando a condições degradantes”, explicou.
Edno Moura ressaltou a importância das fiscalizações. “São tão importantes porque conseguimos resgatar os trabalhadores para que eles tenham uma nova oportunidade de serem inseridos no mercado com condições dignas de trabalho e com os direitos preservados”, disse.
O procurador destacou ainda que o apoio da população é fundamental nesse processo. Visto que é possível contribuir com as instituições denunciando casos de trabalho escravo.
As denúncias podem ser feitas através do site do MPT, no www.prt22.mpt.mp.br, na Aba Requerimento/Denúncias, de forma presencial nas sedes do MPT em Teresina, Picos ou Bom Jesus, ou ainda através do WhatsApp (86) 99544 7488. Elas podem ser sigilosas.
Com informações do G1PI