Municípios que adotam o Programa Alfa e Beto de Alfabetização são destaques no Piauí

Imagine um prefeito que possa dizer para seus eleitores: aqui no município vocês podem matricular seu filho em qualquer escola da rede municipal que no fim do ano eles estarão totalmente alfabetizados.

Apenas os prefeitos de dois municípios do Estado do Piauí podem fazer essa afirmação: os prefeitos de Bom Jesus e de Água Branca.

Isso é o que diz os resultados da avaliação realizada ao fim de 2023 pelo Governo do Estado – metas atingidas no Sistema de Avaliação do Piauí (SAEPI) -, que selecionou 78 escolas de 50 municípios de acordo com o desempenho dos alunos que estavam no 2º ano do ensino fundamental.

Tanto em Bom Jesus quanto em Água Branca, todas as escolas elegíveis foram premiadas pelo governo estadual – o que revela a existência de políticas adequadas que atendem toda a rede.

O que os diferencia, de acordo com os próprios educadores, é o fato de terem adotado e mantido até hoje o Programa Alfa e Beto de Alfabetização – uma proposta de alfabetização baseada em evidências científicas, com resultados comprovados.

Parcerias

Dentre os municípios premiados, outros também começaram recentemente a parceria com o Instituto, e os resultados já começam a aparecer. Professores que participaram da capacitação em Demerval Lobão expressaram entusiasmo com as novas ferramentas e técnicas. “É refrescante ver uma abordagem que realmente se concentra nas necessidades dos alunos e nos prepara para atender essas necessidades de maneira eficaz”, disse a professora Marina Silva. A cidade criou o programa Alfabetiza + Demerval.

Já em Esperantina, os programas do Instituto Alfa e Beto foram implementados somente a partir de agosto de 2023, proporcionando resultados notáveis em apenas quatro meses de implementação.

Na alfabetização, a rede municipal de Esperantina registrou índices superiores a 70% de suas crianças com habilidades de leitura adequadas para a idade. Do 2º ao 5º ano, mais de 80% demonstraram fluência de leitura e compreensão de texto de forma extremamente positiva.

Antes da intervenção do Instituto, a quantidade de alunos atingindo habilidades adequadas era significativamente menor em maio do que em novembro. Um curto período após a intervenção, observou-se uma equivalência de desempenho entre alunos de diferentes anos.

Os dados são baseados na nota obtida pelos alunos no TELCS (Teste de Leitura e Compreensão de Sentenças). Esse teste, embora não específico para alfabetização, permitiu medir o nível de leitura alcançado pelos alunos. Considerou-se alfabetizado o aluno que respondeu corretamente a 7 itens entre os 10 primeiros do teste.

Os resultados destacam não apenas o sucesso dos programas do Instituto Alfa e Beto, mas também a capacidade de implementar mudanças significativas em curtos períodos, transformando a educação em Esperantina.

Teresina

Outra comprovação dos excelentes resultados com a adoção dos programas do Instituto Alfa e Beto é a que se refere à capital do Estado. Teresina, que em 2023 não teve nenhuma escola premiada, em outros anos, quando adotava a proposta do Instituto figurava entre as melhores não só do Piauí, mas do Brasil.

Resultados

Para o presidente do Instituto Alfa, João Batista Oliveira, esses resultados sugerem importantes reflexões por parte do governo estadual e dos governos municipais: existem conhecimentos científicos e estratégias mais adequadas do que outras para alfabetizar – e também para o ensino nas demais séries. Os municípios que adotam essas orientações, de maneira consistente, obtêm melhores resultados. 

Premiação

João Batista explica que a premiação deveria ter como foco o município, e não as escolas separadamente, pois as práticas eficazes deveriam ser comuns a todos os colégios da rede de ensino, e não ficar a critério de uma ou de outra. Isso é particularmente crítico no caso da alfabetização, tema sobre o qual as evidências sobre o que funciona são incontestáveis. A educação precisa funcionar para todos e, para funcionar, deve ser baseada em evidências que podem ser reproduzidas em qualquer município e em qualquer escola.

Bom Jesus

Em 2014, o município de Bom Jesus apresentava apenas 40% dos alunos do 3º ano do Ensino Fundamental alfabetizados. Havia uma necessidade de estruturar o aprendizado e a gestão com acompanhamentos periódicos, avaliando os alunos constantemente e entendendo o que mudar ao longo do processo, evitando as reprovações ao final do ano.

Algum tempo depois, os resultados começaram a aparecer. Em 2019, por exemplo, 94% dos alunos estavam alfabetizados ao final do primeiro ano do Ensino Fundamental. Houve um crescimento de 46,4% nas notas de Matemática do 5º ano da Prova Brasil de 2013 a 2019 e crescimento de 47,5% nas notas de Língua Portuguesa do 5º ano da Prova Brasil de 2013 a 2019.

Os resultados do prêmio entregue ao fim do ano de 2023 reforça o compromisso do Instituto Alfa e Beto com a alfabetização e confirma a eficácia de seus programas. Atualmente, Bom Jesus está com resultados muito mais avançados do que as médias do Piauí e do Brasil.

Doutores

Todo o investimento feito em educação em Bom Jesus o levou a ser conhecido como a “Cidade dos Doutores”. Já são 150 doutores na cidade (29 mil habitantes), o que dá 1 doutor para cada 200 habitantes. É quatro vezes maior que a média do Brasil, que é de 1 doutor para cada 900 cidadãos.

“O município se destaca não somente por ser a cidade dos doutores, mas também por ser uma das cidades que oferecem a melhor educação de base no Estado do Piauí. Isso graças a um esforço coletivo que envolve as redes de ensino, as famílias e os alunos em busca de uma educação de qualidade para todos. A rede municipal, por exemplo, faz um trabalho desde a educação infantil até os anos finais do Ensino Fundamental que visa garantir a aprendizagem de cada aluno matriculado em cada uma das 17 escolas municipais”, afirma a secretária municipal de Educação e também doutora, Oldênia Fonseca Guerra, Licenciada em Letras (UFPI), Mestre em Educação (UFPI) e Doutora em Educação (UFRJ).

Bom Jesus recebe ainda doutores de todo o Brasil para trabalharem em suas fazendas, com pesquisas de campo. O município é um forte produtor do agronegócio: em 2023 colheu aproximadamente 7 milhões de toneladas de grãos. Em um dos dois cursos de Doutorado na UFPI (Universidade Federal do Piauí), no campus de lá, no ano passado se formaram 30 novos doutores.